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Notícias | Novo Hamburgo A vida por outro ângulo

Socioeducandos do Case Novo Hamburgo redescobrem o mundo através da leitura

Projeto da Caseoteca, que incentiva o hábito de ler entre os jovens, recebeu verba do Judiciário para ampliação

Por Bianca Dilly
Publicado em: 04.09.2020 às 05:00 Última atualização: 04.09.2020 às 08:54

Foto por: Divulgação/Case NH
Descrição da foto: Silva, Ana Paula e Sandra são os responsáveis pela ação
Por meio da leitura, jovens internos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Novo Hamburgo estão conhecendo um novo mundo - de aventuras, descobertas e informação. Para dar asas a esse conhecimento transformador, um projeto organizado por servidores da unidade recebeu verba de quase R$ 29 mil em convênio firmado com o Poder Judiciário local. O valor será investido na Caseoteca, espaço de leitura da unidade, proporcionando a aquisição de mais obras, melhorias nos equipamentos e possibilidades de aprendizado.

Para um dos adolescentes que demonstra interesse na iniciativa, poder ampliá-la é uma boa notícia. "Quanto mais a gente puder ler, melhor para a nossa vida", destaca. Ele, que começou a ver as obras das estantes com outros olhos a partir do incentivo de professores, não pensa em parar tão cedo. "Quando eu entrei na escola e aprendi a ler, foi uma motivação para continuar. Eu não ia muito bem em redação, mas vi que quando comecei a ler, aprendi a escrever melhor", relata.

A diretora do Case NH, Elisete Moretto, explica que o projeto ocorre há cerca de quatro anos e o retorno tem sido positivo. "A gente vê os meninos bem motivados. Isso ajuda eles a passarem o tempo, pensarem em outras coisas. Sem contar que em provas nos últimos anos, como o Encceja e o Enem, tem chamado a atenção a nota elevada deles em redação", frisa, explicando que muito disso se atribuiu ao trabalho realizado.

De acordo com uma das idealizadoras do projeto, Ana Paula Schoninger Van Grol, a iniciativa começou com uma finalidade. "A agente Sandra Pavanello e eu iniciamos emprestando até nossos livros próprios. O objetivo foi criar vínculo com os meninos, ter assuntos mais saudáveis para conversar com eles e até ajudar nas questões de aprendizagem da escola", detalha. Além delas, o agente Fábio Batista da Silva contribui com as ações atualmente.

E agora, com o convênio para o subsídio, o programa ganha ainda mais força. "Com esse recurso, vamos poder nos organizar melhor. Comprar novos livros, armários, equipar o projeto. E vem para nos ajudar a ampliar, já que os livros que tínhamos de doações estavam em um local improvisado", explica Elisete.

Na nova formatação, a ideia é dispor as obras de forma mais atrativa. "Os livros ficam em uma sala compartilhada. Com a verba, a Caseoteca terá novos armários, que vão ser dispostos entre os setores, para facilitar a organização e retirada", destaca a pedagoga Liana Lemos Gonçalves, responsável pelos projetos da unidade. As obras que serão agregadas ao acervo pretendem chamar ainda mais a atenção dos jovens. "O grupo que montou o projeto fez uma pesquisa com eles. Os títulos foram pensados em conjunto com os adolescentes", frisa a diretora.

Contando os dias para as melhorias da Caseoteca

A ideia é que agora o projeto cresça cada vez mais. "Já fizemos um concurso para escolher o nome e aí que veio a sugestão de Caseoteca. Eles até fizeram um desenho para o logotipo. Temos concursos de leitura pela Fase e já tivemos a chance de chamar uma autora para conversar com eles", detalha Ana, sobre ações que tiveram como origem o projeto. Para a ampliação, a verba totaliza R$ 28.907,29 e segue os passos burocráticos necessários. Enquanto aguardam o andamento, vão se organizando. "Já vamos fazendo as pesquisas de preço, por exemplo. Teremos seis meses depois disso para usar esse recurso", arremata.

Juíza frisa a importância da iniciativa

Para que a parceria funcionasse, os agentes do Case NH montaram o projeto e encaminharam ao Judiciário. A verba foi intermediada através da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Novo Hamburgo, pelo juiz Carlos Fernando Noschang Júnior. Quem segue acompanhando seu andamento é a juíza Angela Martini, do Juizado da Infância e da Juventude. "A medida socioeducativa tem por finalidade apresentar aos jovens privados de liberdade novas alternativas à trajetória de vida que os colocou nesse espaço. A educação tem papel fundamental nesse propósito", ressalta. "Há de se celebrar a conquista, porque, por meio da leitura e do ato de recontar a história, de repensá-la, de discorrer sobre ela, pode-se reelaborar vivências e ressignificar o que o sujeito pensa sobre si, sobre o outro e sobre o mundo."

Faz parte da rotina

"A atividade de leitura vai ocorrendo o tempo todo, em nossa rotina. Enquanto a gente está trabalhando, o menino vem, troca o livro, conversamos nas portas e fora delas", diz Ana Paula. Atualmente, com a pandemia, o hábito se tornou ainda mais importante. "Como estamos sem aulas, nos deixam pegar livros e é uma coisa que nos distrai, passa o tempo", comenta o jovem. Mas o interesse pelo passatempo não foi exclusividade do socioeducando. "Não sou só eu que gosto de ler. A maioria gostava de ler gibis. Foi depois que aprendemos a ler livros maiores. Eu gosto de ler romance", diz.

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