Socioeducandos do Case Novo Hamburgo redescobrem o mundo através da leitura
Projeto da Caseoteca, que incentiva o hábito de ler entre os jovens, recebeu verba do Judiciário para ampliação
Por meio da leitura, jovens internos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Novo Hamburgo estão conhecendo um novo mundo - de aventuras, descobertas e informação. Para dar asas a esse conhecimento transformador, um projeto organizado por servidores da unidade recebeu verba de quase R$ 29 mil em convênio firmado com o Poder Judiciário local. O valor será investido na Caseoteca, espaço de leitura da unidade, proporcionando a aquisição de mais obras, melhorias nos equipamentos e possibilidades de aprendizado.
Para um dos adolescentes que demonstra interesse na iniciativa, poder ampliá-la é uma boa notícia. "Quanto mais a gente puder ler, melhor para a nossa vida", destaca. Ele, que começou a ver as obras das estantes com outros olhos a partir do incentivo de professores, não pensa em parar tão cedo. "Quando eu entrei na escola e aprendi a ler, foi uma motivação para continuar. Eu não ia muito bem em redação, mas vi que quando comecei a ler, aprendi a escrever melhor", relata.
A diretora do Case NH, Elisete Moretto, explica que o projeto ocorre há cerca de quatro anos e o retorno tem sido positivo. "A gente vê os meninos bem motivados. Isso ajuda eles a passarem o tempo, pensarem em outras coisas. Sem contar que em provas nos últimos anos, como o Encceja e o Enem, tem chamado a atenção a nota elevada deles em redação", frisa, explicando que muito disso se atribuiu ao trabalho realizado.
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E agora, com o convênio para o subsídio, o programa ganha ainda mais força. "Com esse recurso, vamos poder nos organizar melhor. Comprar novos livros, armários, equipar o projeto. E vem para nos ajudar a ampliar, já que os livros que tínhamos de doações estavam em um local improvisado", explica Elisete.
Na nova formatação, a ideia é dispor as obras de forma mais atrativa. "Os livros ficam em uma sala compartilhada. Com a verba, a Caseoteca terá novos armários, que vão ser dispostos entre os setores, para facilitar a organização e retirada", destaca a pedagoga Liana Lemos Gonçalves, responsável pelos projetos da unidade. As obras que serão agregadas ao acervo pretendem chamar ainda mais a atenção dos jovens. "O grupo que montou o projeto fez uma pesquisa com eles. Os títulos foram pensados em conjunto com os adolescentes", frisa a diretora.
Contando os dias para as melhorias da Caseoteca
A ideia é que agora o projeto cresça cada vez mais. "Já fizemos um concurso para escolher o nome e aí que veio a sugestão de Caseoteca. Eles até fizeram um desenho para o logotipo. Temos concursos de leitura pela Fase e já tivemos a chance de chamar uma autora para conversar com eles", detalha Ana, sobre ações que tiveram como origem o projeto. Para a ampliação, a verba totaliza R$ 28.907,29 e segue os passos burocráticos necessários. Enquanto aguardam o andamento, vão se organizando. "Já vamos fazendo as pesquisas de preço, por exemplo. Teremos seis meses depois disso para usar esse recurso", arremata.
Juíza frisa a importância da iniciativa
Para que a parceria funcionasse, os agentes do Case NH montaram o projeto e encaminharam ao Judiciário. A verba foi intermediada através da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Novo Hamburgo, pelo juiz Carlos Fernando Noschang Júnior. Quem segue acompanhando seu andamento é a juíza Angela Martini, do Juizado da Infância e da Juventude. "A medida socioeducativa tem por finalidade apresentar aos jovens privados de liberdade novas alternativas à trajetória de vida que os colocou nesse espaço. A educação tem papel fundamental nesse propósito", ressalta. "Há de se celebrar a conquista, porque, por meio da leitura e do ato de recontar a história, de repensá-la, de discorrer sobre ela, pode-se reelaborar vivências e ressignificar o que o sujeito pensa sobre si, sobre o outro e sobre o mundo."
Faz parte da rotina
"A atividade de leitura vai ocorrendo o tempo todo, em nossa rotina. Enquanto a gente está trabalhando, o menino vem, troca o livro, conversamos nas portas e fora delas", diz Ana Paula. Atualmente, com a pandemia, o hábito se tornou ainda mais importante. "Como estamos sem aulas, nos deixam pegar livros e é uma coisa que nos distrai, passa o tempo", comenta o jovem. Mas o interesse pelo passatempo não foi exclusividade do socioeducando. "Não sou só eu que gosto de ler. A maioria gostava de ler gibis. Foi depois que aprendemos a ler livros maiores. Eu gosto de ler romance", diz.