Bolsonaro tentou recuperar joias retidas dois dias antes de deixar o País
Ofício envolve diretamente o ex-presidente nas tratativas para reaver os diamantes e é assinado pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid
Ofício encaminhado como última tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de resgatar as joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita diz que "os bens foram ofertados ao presidente da República pelo reino da Arábia Saudita". O documento, obtido pelo Estadão, foi enviado no fim do dia 28 de dezembro de 2022, restando três dias para o fim da gestão Bolsonaro, e é assinado pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
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O ofício envolve diretamente Bolsonaro nas tratativas para reaver os diamantes. A ordem foi dirigida ao ex-secretário da Receita Julio Cesar Vieira Gomes, que, no mesmo dia, determinou à superintendência da Receita em São Paulo que ela fosse acatada e as joias, devolvidas.
No dia seguinte, um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) levou à Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, o primeiro-sargento da Marinha, com a missão de resgatar as joias - um colar, um par de brincos, um relógio e um anel. O presente dado pelo regime saudita foi apreendido pelo Fisco, em 2021, por descumprimento da legislação brasileira.
O Estadão encontrou o registro do voo da FAB que levou Silva para São Paulo, por determinação de Mauro Cid, o "faz-tudo" de Bolsonaro.
Pressão
No aeroporto de Guarulhos, Silva encontrou o servidor da Receita Marco Antônio Lopes Santanna, a quem pressionou, sem sucesso, para recuperar as joias retidas. A pressão incluiu até uma ligação de Vieira Gomes na tentativa de uma interferência em favor do governo.
Dos Estados Unidos, Bolsonaro negou que tenha havido irregularidades na tentativa de trazer as joias da Arábia Saudita. Afirmou que não pediu nem recebeu o presente. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também disse não ter conhecimento dos itens avaliados em € 3 milhões. As joias seguem retidas no cofre da Receita, em Guarulhos.