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Quem não acreditava que conseguiria transitar pela Avenida dos Municípios, em obras há 30 anos, precisou mudar seu pensamento. É que a passagem de veículos na ponte sobre o Arroio Pampa foi liberada no fim da manhã desta segunda-feira (18) – embora o Daer afirme que ainda falta a sinalização e não recomende o tráfego no local.
Sem pompa alguma de cerimônia, nem a presença de políticos e muito menos com aviso à comunidade de que o trecho estaria liberado, a comemoração ficou mesmo por conta de quem não precisou desviar pelo bairro mais populoso de Novo Hamburgo, o Canudos, para seguir o trajeto necessário. Por alguns minutos, a abertura da passagem foi marcada por foguetório e buzinaço.
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A euforia pela liberação do trânsito da ponte foi tanta que Sady Vicente dos Santos, vice-presidente da Associação dos Moradores da Getúlio Vargas, vila do bairro Canudos, estourou foguetes. "Comprei foguetes porque nunca achava que seria inaugurado", comentou Santos. Ele comemorou que as obras, além de facilitarem o trânsito, impediram alagamentos da Getúlio Vargas, a cada chuva que dava.
Santos acompanha a obra de perto. É morador do bairro Canudos há 23 anos, seu filho primeiro filho tinha seis anos quando a obra iniciou e o caçula nasceu sete anos após o início da mesma. Sua expectativa agora é que seus filhos possam inaugurar o trecho, já que o vice-presidente da associação não tem carro. "Só vou na carona", brinca. Seu primogênito, André Luiz dos Santos, 36, tem um Chevrolet Corsa e mora em Portão, e o mais novo, Adrielson Ronaldo dos Santos, 23, tem um Volkswagen Gol e mora no bairro hamburguense Canudos. "Eles tiveram o carro depois de adultos e agora vão usar o trecho, sem precisar desviar por outras ruas", comentou o aposentado.
O motorista Ismael Lessa Volf, 35, que mora e trabalha em Campo Bom, diz que o deslocamento profissional e pessoal vai mudar. "Vamos ter mais tempo para ir e voltar. Além de não precisar fazer o desvio por dentro do bairro, é uma reta muito boa", destacou, enquanto se dirigia para Campo Bom no Mercedes Benz 2425, modelo truck. É claro que a comemoração na boleia no caminhão da empresa não poderia faltar. Ele é proprietário de um Renault Clio, que usa para levar a família a passeios, como o Zoológico em Sapucaia do Sul, ou para visitar familiares em São Leopoldo.
Nem o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), responsável pela execução da obra, tinha certeza de que a passagem estaria liberada. O departamento mudou de posicionamentos. Às 9h26 declarou que a data de liberação estava sendo avaliada. Às 11h45, o Daer declarou que "após análise de engenheiros da autarquia, constatou-se que a ponte pôde ser liberada". À tarde, informou que ainda falta sinalização e a liberação ocorreu apenas para a realização de serviços no local. "Desta forma, esclarecemos que o trecho não está liberado ao tráfego de veículos", consta em nota enviada pela assessoria de imprensa.
Quando teve um Chevrolet Kadett e uma Volkswagen Parati, a oportunidade de Elias Mota de Miranda trafegar sobre a pista não ocorreu, pois ela estava em obras. "Vai melhorar bastante, porque não preciso mais fazer uma grande volta para chegar onde quero", disse.
Fusca, Brasília, Variant, Chevette, Monza, Opala, 147, Uno, Corcel, Escort, sem esquecer as guerreiras Bandeirantes e Rural, bem como dos luxuosos Landau. Os modelos que circulavam pelas ruas de Novo Hamburgo e região quando foi lançado o projeto da Avenida dos Municípios eram bem diferentes dos atuais, não apenas no visual, mas na tecnologia. Como o mercado ainda era fechado aos produtos importados - abertura que só ocorreu um ano depois, em 1990, pelas mãos do presidente Fernando Collor de Mello -, o setor automotivo era dominado pelas chamadas Quatro Grandes Montadoras: Volkswagen, Ford, Chevrolet e Fiat.
Como ainda havia muitas estradas sem pavimentação, os veículos eram um pouco mais altos em relação ao chão. Naquele ano, chegava ao mercado o primeiro carro com injeção eletrônica, o Gol GTI, apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo do ano anterior. Mas, nos demais modelos, o carburador reinava.
As potências médias dos carros populares variavam dos 50 cv aos 80 cv, bem menores que as atuais, que começam nos 80 cv e vão até os 150 cv. Resultado: os veículos eram mais lentos que hoje, dando mais tempo para pedestres atravessarem as ruas. Com menos carros disputando os espaços públicos, mesmo sem a existência dos Centros de Formação de Condutores (CFCs), havia mais cortesia no trânsito, algo que deve ser urgentemente resgatado nos dias atuais.
O Daer informou que precisa realizar a sinalização definitiva para que a obra seja concluída, porém não deu prazo para o serviço.
A Avenida dos Municípios foi idealizada para interligar Sapiranga, Campo Bom, Novo Hamburgo e São Leopoldo, com projeto concluído em 1989. Em 1994, os nove quilômetros iniciais, partindo da RS-239 em direção ao limite entre Campo Bom e Novo Hamburgo, foram concluídos. O trecho final da avenida, que segue até a rótula com a Estrada da Integração Leopoldo Petry, virou realidade em dezembro de 2011.
Em fevereiro de 2003, o Daer foi condenado a elaborar e executar projeto para contenção da erosão e o desabamento de terras ao longo de todo o trecho da rodovia, com supervisão e aprovação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). A sentença previa o isolamento físico da área de banhado, além da recuperação de áreas degradadas.
As obras começaram e pararam várias vezes nos últimos 30 anos por diferentes motivos.
A liberação segunda-feira (18) pela manhã para o trânsito de veículos ficou por conta da Secretaria Municipal de Obras, que liberou quatro caminhões toco e dois trucks para a limpeza do acostamento da Avenida dos Municípios com a retirada de lixo e posteriormente empurrou o aterro para a borda da via. O secretário de Obras, Raizer Ferreira, acrescentou que o trecho da ponte está com pintura de acostamento e que a pintura que divide a pista deverá ser realizada o mais breve possível.
O eletrecista Elias Mota de Miranda tem a idade que levou a obra da Avenida dos Municípios para ser liberada. Aos 30 anos, ele passou segunda-feira (18) pela manhã dirigindo um carro emprestado, o Chevrolet Ônix prata da sua cunhada, pois não tem carro próprio atualmente.
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