A cada dia, o número de desligamentos no setor calçadista aumenta. E essa curva ascendente, infelizmente, está crescendo rapidamente. Em questão de poucos dias, por exemplo, a Federação Democrática dos Trabalhadores na Indústria do Calçado no Rio Grande do Sul (Federação dos Sapateiros RS) teve um incremento de 1,5 mil demissões. Na quarta-feira passada, dia 15, o presidente João Batista Xavier da Silva revelava que os desligamentos no Rio Grande do Sul passavam dos 3 mil. Números que até o início da tarde de segunda-feira, dia 20, chegavam a 4,5 mil, segundo os levantamentos da federação.
E é justamente por causa desses atrasos que existe uma diferença nos números dos sindicatos municipais e o da federação, como mostra tabela ao lado em levantamento feito pelo Jornal NH a partir das informações repassadas pelas lideranças sindicais. Entretanto, os números não são 100% fidedignos. "Com a reforma trabalhista, as rescisões não precisam mais ser homologadas nos sindicatos e podem ser feitas diretamente com os empregadores", pontua o presidente da Federação dos Sapateiros RS.
Na liderança nacional
Infelizmente, o DNA sapateiro gaúcho tem sido o mais afetado negativamente com a pandemia da Covid-19. Pesquisa feita pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) com as empresas associadas mostra que até a última sexta-feira, o Estado liderava o ranking de desligamentos no País, quando já haviam sido contabilizadas mais de 4,7 mil demissões.
Impactos na região
No Estado, a região mais atingida pelas demissões é a dos Vales do Sinos e Paranhana, conforme as informações da Federação dos Sapateiros RS. A cidade com mais demissões até agora é a de Dois Irmãos. De acordo com o diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados de Dois Irmãos e Morro Reuter, Romeo Schneider, as demissões aumentaram nos últimos dias. "A maioria desses desligamentos são de pessoas que tinham contratos há mais tempo. Os trabalhadores com contrato de experiência já haviam sido demitidos na primeira quinzena do mês passado. Infelizmente, duvido muito que cesse esse movimento nas próximas semanas."
O presidente do Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo, Jair Xavier dos Santos, comenta que pela última atualização do sindicato cerca de 270 profissionais já haviam sido desligados. Ele frisa ainda que muitas empresas estão aderindo à Medida Provisória 936. "Já fizemos vários acordos coletivos. A maioria das empresas está optando pela redução da jornada de trabalho proporcional ao salário em 25% e 50%. Chegamos a ter algumas empresas que optaram pela redução de 70% e algumas pela suspensão do contrato de trabalho", fala, ao dizer que ainda há muitas incertezas. "Daqui dois meses vamos poder deslumbrar alguma coisa, dizer o que vai acontecer", destaca o presidente do sindicato.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Calçado de Ivoti, Lindolfo Collor e Presidente Lucena, Paulo Führ, lembra que o sindicato não sabe 100% das demissões porque as empresas não precisam mais informar. "Não sabemos onde isso vai parar, as empresas alegaram que perderam muitos pedidos. Já chegamos a cerca de 160 desligamentos aqui."
Sem os números totalmente fechados, o presidente do Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga e Região, Júlio Cavalheiro Neto, acredita que as demissões na cidade já passaram das 300 que constam no último boletim da federação. "Muitos ateliês estão fechando, além disso, só em uma empresa tivemos 297 demissões. Os desligamentos já chegaram a 800."
Desde o início da pandemia, 220 profissionais já foram demitidos em Igrejinha conforme o último levantamento do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Calçado de Igrejinha. “Essa situação é de tirar o sono. Não temos ideia do que vem pela frente”, fala o vice-presidente Dirceu Leodoro Alves, ao falar que muitas empresas suspenderam contratos.