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Notícias | Região Meio Ambiente

Queimadas mais que triplicam em Novo Hamburgo nos quatro primeiros meses do ano

Ocorrências de fogo em vegetação e lixo somaram 68 casos de janeiro a abril de 2019, contra 251 no mesmo período deste ano; moradores do Alpes do Vale se revoltaram

Por Ermilo Drews
Publicado em: 05.05.2020 às 05:00

Moradores do bairro Alpes do Vale realizaram protesto após queimada em área verde, onde Prefeitura autorizou o corte de eucaliptos. Eles demonstram contrariedade com a decisão Foto: Ermilo Drews/GES-Especial

O período quase sem chuva no Rio Grande do Sul e a imprudência de muita gente fizeram o número de ocorrências de fogo em vegetação e lixo crescer 360% em Novo Hamburgo nos quatro primeiros meses do ano em comparação ao mesmo período do ano passado. De 1º de janeiro a 30 de abril do ano passado foram 68 casos, contra 251 no mesmo período de 2020.

Num período inferior a três horas no último domingo (3), quatro incidentes do tipo mobilizaram os bombeiros do Município, que precisaram recorrer a unidades de outras cidades para dar conta da demanda. Os focos de incêndio aconteceram nos bairros Boa Vista, Alpes do Vale, Boa Saúde e Canudos, deixando muitos moradores da cidade intrigados em função da fumaça e do cheiro.

Além do prejuízo à flora e fauna, incêndios do tipo, se não forem controlados, colocam em risco a vida humana. "É algo que toma tempo e exige muito fisicamente dos bombeiros", atesta a comandante do Pelotão do Corpo de Bombeiros de Novo Hamburgo, Deise Tecca.

Ela admite que a estiagem não costuma ser a única responsável pelo aumento dos casos nesta época. "Geralmente, tem o componente humano, seja porque o pessoal não quer roçar um terreno e toca fogo, seja porque deixam alguma fagulha na vegetação seca, que com o vento se espalha mais fácil."

A Secretaria de Meio Ambiente (Semam) investiga a possibilidade de vários focos de queimas irregulares em Novo Hamburgo, geralmente iniciadas à noite, quando provavelmente não há um único elemento causador. A Semam alega que não realiza o combate a incêndios e essa atribuição é do Corpo de Bombeiros.

Colaborou: Bianca Dilly

Protesto no Alpes do Vale

A queimada em uma destas áreas no final de semana provocou a indignação de moradores do bairro Alpes do Vale. Na manhã desta segunda-feira (4), um grupo com cerca de 30 pessoas protestou em frente a uma área verde de seis hectares na Rua Germano Friederich que foi parcialmente consumida pelo fogo.

Segundo o presidente da Associação Comunitária do Alpes do Vale (Acorvale), José Alfredo Tessmann, o incidente, de origem desconhecida, é o mais recente ato contra a flora e fauna do local.

A área pertence à Prefeitura, que autorizou a retirada de madeira de eucalipto com a finalidade de obter recursos aos cofres públicos. "Esta decisão foi tomada sem consulta aos moradores, que são contrários a ela. Inclusive fizemos um abaixo-assinado para expressar nossa contrariedade, mas foi em vão", reclama Tessmann.

Prefeitura diz que haverá compensação

Sobre a área no Alpes do Vale, a Prefeitura esclarece que serão plantadas 2.041 mudas de árvores nativas para compensar a remoção dos eucaliptos. "Após a extração, serão contadas as árvores nativas danificadas durante os manejos. Essa contagem vai gerar outra compensação com plantios no mesmo local", complementa. A intenção é de que a área tenha o mato nativo revigorado com o passar do tempo, evitando a competição e sombreamento dos eucaliptos. Denúncias sobre queimadas podem ser feitas ao Corpo de Bombeiros.

Comunidade pode denunciar

Através de denúncias da população, a Semam tenta identificar os autores de queimadas realizadas, seja de vegetação, ou de resíduos.

A pessoa que for pega em flagrante é levada para a delegacia de polícia e pode ser enquadrada por crime ambiental, na lei federal 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, com possibilidade de reclusão de um a quatro anos, além de multa.

A população pode denunciar, em caso de flagrante, por meio do telefone da fiscalização ambiental no número (51) 3097-1990, e no plantão pelo celular (51) 99645-7266, que funciona às sextas-feiras, das 19 às 23 horas, sábados e domingos do meio-dia às 23 horas, e feriados do meio-dia às 21 horas. Um protocolo de denúncia também pode ser realizado pelo telefone (51) 3097-9400.

Biólogo alerta para prejuízos ambientais e à saúde

As práticas de queimadas acarretam prejuízos ambientais como a perca da biodiversidade, poluição do ar e consequentemente interfere nas mudanças climáticas. De acordo com o parecer do biólogo Carlos Augusto Normann, a frequência de queimadas é bastante relacionada com a cultura regional, como a limpeza de lotes e quintais.

Normann destaca ainda que a fumaça de uma queimada é algo mais sério do que pode parecer. Por ser uma combustão incompleta, as emissões resultantes constituem-se inicialmente em monóxido de carbono (CO) e matéria particulada (fuligem), além de cinzas. Resultam também dessa combustão compostos orgânicos simples e complexos, como hidrocarbonetos (HC), destacando os HCs policíclicos aromáticos, dioxinas e furanos, compostos de grande interesse em termos de saúde pública, pois são extremamente tóxicos.

Como nas queimadas a combustão se processa com a participação do ar atmosférico, há também emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), em especial o óxido nítrico (NO) e o dióxido de nitrogênio (NO2).

Além das emissões diretas (poluentes primários), ocorrem na atmosfera reações entre essas emissões e vários outros compostos presentes no ar, como as reações fotoquímicas com importante participação da radiação ultravioleta do sol, resultando em compostos que podem ser mais tóxicos que os seus precursores, destacando aí o ozônio (O3) e os aldeídos. Dióxido de enxofre também é emitido, pois apesar de que em quantidades muito pequenas, os vegetais contêm enxofre.

Os efeitos de queimadas sobre a saúde pública são bastante diversos dependendo da maior ou menor exposição dos grupos ou indivíduos.


Até helicóptero é usado para conter fogo na Serra

As queimadas têm mobilizado os bombeiros em diferentes cantos do Estado. Na Serra, a corporação trabalha há dias no combate a focos de incêndio no Morro Agudo, interior de Gramado. Por ser de difícil acesso, o combate aos focos nesta mata não pode ser feito com o uso de mangueiras. Desde a última quinta-feira (30), um helicóptero da Polícia Civil gaúcha é usado no combate aos focos. O veículo aéreo é equipado com uma bolsa de combate a incêndio com capacidade de 900 litros de água por lançamento.

 

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