Publicidade
Notícias | Região 19 de abril

Dia do Índio para celebrar a luta de um povo forte, mas pouco valorizado

Caingangues da aldeia leopoldense Por Fi Ga relatam dificuldades em época de pandemia e pedem ajuda

Por Priscila Carvalho
Publicado em: 19.04.2021 às 03:00 Última atualização: 19.04.2021 às 07:57

Dia do Índio é celebrado nesta segunda-feira, 19 de abril Foto: Diego da Rosa/GES
Um povo forte, uma cultura rica e uma história de luta. Atualmente, porém, pouca valorização e uma sensação de esquecimento. Nesta segunda-feira, 19 de abril, celebra-se o Dia do Índio ou Dia dos Povos Indígenas, mas mais do que apenas lembrar a importância dessa etnia para a formação cultural do Brasil, a data vem reforçar a necessidade de conscientização e respeito para com essas comunidades. Ainda mais, no momento atual, em meio a pandemia de coronavírus e uma situação econômica difícil em todo o mundo.

Para quem tem sua renda concentrada principalmente no artesanato, então, os problemas podem ser ainda maiores. É o caso da aldeia caingangue Por Fi Ga, uma das únicas comunidades indígenas da região e que está situada no bairro Feitoria, em São Leopoldo. Por lá, vivem 65 famílias, totalizando 236 pessoas, que buscam o sustento na venda de suas produções próprias. "A nossa fonte de renda aqui é o artesanato, mas, com essa pandemia, não estamos conseguindo negociar o nosso produto. Então, estamos tendo muita dificuldade de buscar os alimentos para nós, trazer para as nossas famílias", disse o cacique da aldeia Por Fi Ga, José Vergueiro, 52 anos, lamentando que nem a época de Páscoa, que tradicionalmente pode incrementar as vendas, foi de boas comercializações.

6 meses de espera

Soma-se às dificuldades da aldeia a espera por uma ajuda do Município que já foi pedida há, pelo menos, seis meses. O cacique Vergueiro explica que o governo do Estado destina um incentivo para que a Prefeitura aplique na saúde indígena. Por conta da pandemia, houve uma flexibilização onde é possível usar esse recurso para a compra e entrega de cestas básicas, por exemplo, aos índios da aldeia. "Mas a gente já fez o pedido dessas cestas básicas e faz 6 meses que elas ainda não vieram. Se fosse dinheiro do Município, eu até concordaria, mas ele já vem diretamente para isso, para a saúde indígena, e isso não está acontecendo", lamentou o cacique, lembrando que da última vez que o recurso veio, no começo de 2020, a demora foi de 3 meses. "Faz 6 meses e ainda estamos aguardando. Nem a compra foi feita. Isso fica complicado", indigna-se.

Promessa é para abril

A reportagem questionou a administração leopoldense sobre o processo de compra das cestas básicas, via incentivo enviado pelo governo do Estado e a demora para vinda dos alimentos. Em resposta, a Superintendência de Comunicação da Prefeitura de São Leopoldo confirmou a verba, oriunda da Secretaria Estadual de Saúde, no valor de R$ 14.931,60. De acordo com a Superintendência, o dinheiro está reservado especificamente para esse fim, o qual o Município teve que fazer uma nova inclusão no orçamento.

“O processo de aquisição está em andamento pela Secretaria de Compras e Licitações (Secol), através do pedido de compra nº 10324/2021, com a previsão de ainda no mês de abril superar as questões burocráticas legais, administrativas do processo de aquisição e garantir a entrega de 80 cestas básicas e 360 quilos de coxa e sobrecoxa de frango aos caingangues aldeados”, informou a nota da Prefeitura.

Apelo por auxílio da população e parceria de empresários

Assim como em 2020, as restrições à pandemia também afetarão as comemorações pelo Dia do Índio na aldeia Por Fi Ga. Com adversidades econômicas, o cacique faz um apelo por ajuda para as famílias. “A gente pede para a população, se puderem contribuir para a comunidade com ajuda de cestas básicas, será bem- -vindo. Tudo ajuda, porque a gente compra de tudo. E se a gente não comercializar o nosso artesanato, as famílias começam a perecer”, justifica. O vice-cacique, Antônio dos Santos, 53 anos, reitera o pedido, buscando apoio de empresários e entidades que possam ser parceiros da aldeia, principalmente para as atividades culturais do Dia do Índio, que devem ocorrer entre o final do mês de abril e o início de maio.

“Neste ano, pretendemos fazer alguma atividade para mostrar realmente que, além de estarmos isolados, a gente ainda retoma, reforça e protege a nossa cultura indígena, para fortalecer mais para a nossa juventude”, pondera, citando a necessidade de alimentos não-perecíveis, como farinha e sal. Doações podem ser feitas diretamente na aldeia, que fica na Estrada do Socorro, bairro Feitoria, em São Leopoldo, ou podem ser combinadas por telefone, com o cacique José Vergueiro, no 99508-5788, ou vice-cacique Antônio dos Santos, pelo 99815-5585.

Crianças estão sem aulas

Outro problema observado na comunidade indígena leopoldense é que as crianças não estão conseguindo ter aulas, muito em função da dificuldade de acesso à Internet. “Os que estudam fora (da aldeia), sim. Mas os que estudam aqui dentro estão completamente sem estudar”, pontuou o cacique. No total, a Por Fi Ga tem 85 crianças, sendo que 30 delas estudam na escola da aldeia, que vai do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental. Conforme o cacique, representantes da 2ª Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE) informaram que seriam enviadas atividades para os alunos da aldeia, mas, até o momento, elas nunca foram enviadas.

Procurada, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informou, por meio de nota, que, “considerando que a presença de não indígenas na aldeia não é indicada devido ao alto risco de contágio por coronavírus”, deve se reunir, por meio da 2ª CRE, nesta semana com as lideranças da tribo para construir alternativas pedagógicas adequadas às necessidades dos estudantes da região. “Serão elaborados mecanismos de aula e distribuição de conteúdo para garantir a segurança de pais, alunos, professores e comunidade escolar. A iniciativa será feita de forma conjunta, respeitando as características culturais e sociais da aldeia”, conclui o texto

Vacinas trazem alívio, mas variante ainda preocupa

Receio de toda a sociedade no momento, os índios da Por Fi Ga também temem pelo surgimento de novos casos de Covid-19 na comunidade. Em junho do ano passado, a aldeia leopoldense viveu um surto de coronavírus, com 24 pessoas sendo testadas positivas para a doença. Álcool gel e máscaras têm sido distribuídos pela Prefeitura e, a chegada das vacinas também tem trazido certo alívio.

“Na verdade, a gente se sente um pouco mais protegido, mas ainda temos a nossa preocupação, porque tem aquela nova variante que não está escolhendo idade. Isso a gente também está se preocupando”, sublinhou o cacique, que já recebeu a imunização. Conforme dados da Prefeitura de São Leopoldo, até a última sexta-feira, 56 indígenas receberam a primeira dose da vacina na cidade e 27 já tomaram também a segunda dose.

"A comunidade indígena se sente esquecida"

Lembrando a demora no envio dos recursos e na compra de cestas básicas para a aldeia e a falta de ações dos governos, em pensar políticas públicas para as comunidades periféricas, o vice-cacique vê pouco reconhecimento à causa. “Eu me sinto esquecido. A comunidade indígena se sente esquecida, porque nunca vieram aqui as pessoas responsáveis sentar com nós”, comenta. Santos entende que os indígenas são “jogados” para o governo federal, mas o Município também tem responsabilidade com eles, que fazem parte da cidade. “Então, cadê eles? Nós ficamos muito indignados com isso.


Mais praticidade no seu dia a dia: clique aqui para receber gratuitamente notícias diretamente em seu e-mail!

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.