A quarta-feira (27) foi de mobilização popular na Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo para a volta do credenciamento do Município como referência regional para tratamento de oncologia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mais de 250 pessoas compareceram nas dependências do Legislativo para pressionar autoridades para que o serviço de alta complexidade volte a ser oferecido na cidade. No entanto, encontraram justificativas e nenhuma sinalização de solução no curto prazo. Num futuro incerto, a expectativa da Prefeitura de Novo Hamburgo é que o Hospital Municipal seja estruturado para se tornar a referência na especialidade.Enquanto solução, de fato, não chega, a realidade é que pacientes de Novo Hamburgo, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha e Ivoti precisarão se deslocar até o Hospital Bom Jesus, de Taquara. Após cobrança do Ministério Público Federal (MPF) para que a fila de espera por tratamento fosse zerada e divergências de valores entre o Hospital Regina, então credenciado, e o governo do Estado, o serviço passou para Taquara. O Bom Jesus já atende pacientes num período de transição que seguirá até 26 de maio, quando expira o contrato com a casa de saúde hamburguense.
Organizada por entidades de apoio a pacientes com câncer, a mobilização foi tamanha que além do Plenário, os manifestantes ocuparam o plenarinho, a sala de espera da presidência, sala de reunião e hall de entrada. Sem capacidade para comportar mais pessoas, um grupo com dezenas de manifestantes ainda ficou do lado de fora.
Dentro, não faltaram cobranças e justificativas. Vereadores prometeram fiscalizar o cumprimento do serviço na cidade a 40 quilômetros de Novo Hamburgo. Cogitou-se ainda ida a Brasília na busca de recursos federais. Representantes da prefeitura afirmaram que o Município não tem condições de aportar mais recursos para manter o serviço na cidade e explicaram que o descredenciamento atendeu a um pedido do próprio Regina, que argumentava prejuízo financeiro com o valor insuficiente repassado pelo governo federal, responsável por tratamentos de alta complexidade.
Segue a incerteza
Entre discursos e lamentos, pacientes como Lisete Tomazi Ferreira, 65 anos, saíram como entraram. Incertos sobre como enfrentar o doloroso tratamento. Ano passado ela iniciou sessões de quimioterapia para combater o câncer de mama no Regina. O tumor regrediu e no dia 9 de maio está prevista cirurgia para a retirada. Só que ela não sabe onde. "Recebo uma ligação e fico naquela. Será que é do Regina, será que é de Taquara."
Incerteza que se transforma em temor quando pensa que terá que seguir o tratamento a 41 quilômetros de onde mora. "As sessões de quimioterapias desgastam muito. Fico 15 dias sem comer e beber direito. Caem os pelos, fico sem tato nos mãos e pés, quando vejo caio. Como passar por isso tendo que ir para Taquara para coletar sangue num dia, no outro consultar com o oncologista e depois passar pelas sessões, esperando por horas todos serem atendidos", questiona.
Ela falou na tribuna e destacou a mobilização política que as entidades que assistem pacientes com câncer têm feito. E sinalizou um caminho na tentativa de resolver o problema. "Quem sabe credenciar o Hospital Municipal, que é 100% SUS, mas não atende a oncologia. Ou construir com a Universidade Feevale no Municipal um Hospital Oncológico. Mas se conformar, não."
O secretário de Saúde de Novo Hamburgo, Marcelo Reidel, admite que tornar o Hospital Municipal referência em oncologia é a meta, mas ainda num futuro ainda incerto. "Vamos lutar para trazer a oncologia de forma definitiva para Novo Hamburgo. Este tem que ser nosso objetivo."
Reidel reforçou que a Prefeitura fará a "lição de casa" para dar condições do Municipal de assumir a oncologia. "É impossível assumir uma referência hoje sem ter condições técnicas para dar suporte, com leitos clínicos, de UTI, bloco cirúrgico. O que não precisamos mais é ter este tipo de problema contratual a cada ano. Quando o serviço retornar a Novo Hamburgo, precisará ser eterno", pontua o secretário de Saúde hamburguense.
Antonello destaca que, atualmente, 25 profissionais especializados atuam na retaguarda da oncologia no Regina. "Que precisa de infraestrutura mais ampla e complexa." Na tribuna, ele chegou a questionar se isso será oferecido na cidade vizinha. "Eu, há quatro anos, fui convidado a realizar cirurgias oncológicas no hospital de Taquara. Naquele momento não tinha condições de realizar cirurgias de grande porte. Claro, com todo este recurso que será destinado ao hospital, a gente espera que invistam para se readequar."
Por fim, o médico salienta que é essencial a manutenção de um hospital que atenda a especialidade pelo SUS em Novo Hamburgo. "A expectativa de vida das pessoas aumentou, a incidência de câncer será cada vez maior, precisamos disso. É um direito do cidadão."
"É um retrocesso para a cidade. Receber esta notícia foi desesperador. A sociedade precisa fazer alguma coisa para mudar isso. Trocar de equipe e de cidade, de uma hora para outra, é algo que vai prejudicar muito o tratamento", cita Kisla dos Santos, voluntária do Vida Rosa.
Coordenadora do Mão Dadas, a assistente social Flávia Regina Trevisan destaca o apoio dado aos pacientes neste momento. "Foi um baque. Mas estamos tentando acalmá-los, dar o suporte psicológico. Vamos seguir defendendo um tratamento de qualidade e torcendo para que logo, logo a referência volte para Novo Hamburgo."
Embora concordem que a manutenção do serviço em Novo Hamburgo seria o ideal, o ex-secretário de Saúde Naasom Luciano e o atual, Marcelo Reidel, defenderam na tribuna que, atualmente, o Hospital de Taquara tem totais condições técnicas para assistir os pacientes.
"A situação está posta. O serviço possui uma habilitação federal. Estamos acompanhando e fiscalizando para termos certeza de que o paciente receberá o que precisa", avisa Reidel. "Se não tiver, vamos procurar os fóruns adequados para resolver."
Reidel explica que com a repactuação com o Bom Jesus o acesso ao serviço será ampliado para mais hamburguenses. "Com Taquara, terei 62 novos acessos para Novo Hamburgo ao mês. Com o Regina, pelo contrato ser baseado em uma portaria antiga, estes 62 acessos eram para todos os municípios atendidos pela referência", detalha Reidel.