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Arma apreendida com Jackson Müller tinha sido doada ao promotor de Canela

Ex-secretário municipal investigado por corrupção diz que comprou pistola do amigo do Ministério Público

Por Silvio Milani
Publicado em: 16.06.2022 às 22:10 Última atualização: 16.06.2022 às 22:16

Uma pistola semi-automática doada por um empresário ao promotor de Canela, Paulo Vieira, e apreendida em situação irregular no mês passado com o então secretário de Meio Ambiente da cidade, Jackson Müller, quando ele foi preso por suspeita de corrupção, é objeto explosivo no processo da Operação Caritas, que apura fraudes na ordem de R$ 8 milhões em contratos públicos. O imbróglio, mantido sob sigilo, foi apurado nesta quinta-feira (16) pelo Jornal NH.

Operação com foco em Canela fez buscas e prisões em várias cidades e Estados
Operação com foco em Canela fez buscas e prisões em várias cidades e Estados Foto: Polícia Civil
Müller afirma que comprou a arma do promotor por R$ 9 mil e diz que ela foi regularizada. Vieira, que atuou na ação criminal e depois se declarou impedido, não se manifestou à reportagem. A Corregedoria do Ministério Público, que estaria apurando possível relação promíscua, também não se pronunciou. À frente da Caritas, a Polícia Civil prefere não detalhar fatos sob investigação.

Em casa

A Glock de calibre 9 milímetros foi encontrada na casa do biólogo, no bairro Jardim Mauá, em Novo Hamburgo, na manhã de 19 de maio, quando cumprido mandado de prisão preventiva contra ele. Os agentes apreenderam ainda na residência um termo de doação da arma ao promotor, feito pelo empresário e ex-vice-prefeito de Taquara Claudio Heinz Comassetto, que morreu em abril último, aos 78 anos. O documento é de 7 de julho de 2017.


A venda do presente

A Corregedoria do MP estaria vendo a atitude do promotor de receber doação para uso pessoal, o que é vedado a servidor público. No caso, ainda teria lucrado com o presente, conforme expressado pelo biólogo. “Ele me ofereceu a arma, porque tem outra que manuseia. Achei bom o preço e comprei em três parcelas de R$ 3 mil”, conta Müller, que diz desconhecer o histórico da pistola. “Só sei dizer que o Paulo comprou de alguém de Taquara.”

É também apurado se o promotor providenciou a regularização da pistola, que não se dá apenas com termo de doação assinado em cartório. Por se tratar de arma de fogo, é necessário registro na Polícia Federal ou Exército.

Filho do doador, o engenheiro e empresário Leonardo Comassetto declara que nunca soube da benesse. “Meu pai foi o melhor atirador do Estado e colecionador de armas por 60 anos.” Também não conhece o promotor. “Moro e trabalho em Porto Alegre.” A semi-automática doada, no entanto, não é de acervo histórico. É para uso. “Meu pai tinha mais de 25 Glocks.”


Acusação da Caritas foi contra as prisões

Paulo Vieira
Paulo Vieira Foto: Arquivo GES
Na primeira fase da Caritas, no fim do ano passado, o promotor Paulo Vieira foi contra as prisões dos investigados, entre eles altos cargos da prefeitura e Câmara de Vereadores, mas o Judiciário decretou as preventivas. Na audiência de custódia, o chefe do MP de Canela sustentou que fossem liberados e o juiz mandou soltar.

Mais tarde, Vieira se declarou impedido pela amizade com o então secretário do Meio Ambiente e outros suspeitos. Müller ainda não tinha sido preso, mas já era investigado. A acusação da Caritas foi assumida pelo promotor de São Francisco de Paula, Bruno Pereira.

Seis dias após a prisão, no mês passado, ele pediu demissão e foi solto. Foi também exonerado de cargo em comissão (CC) outro biólogo, Tiago Becker, indicado por Müller e cunhado do promotor Vieira. O nome de Becker foi colocado ontem em polêmica pelo próprio ex-chefe no Meio Ambiente de Canela, sob entendimento de que teria sido vítima de contra-cheque falsificado no inquérito da Caritas.

 

Negócio teria sido feito em março

Jackson Müller com relatório feito à mão durante o período em que esteve preso
Jackson Müller com relatório feito à mão durante o período em que esteve preso Foto: João Ávila/GES-Especial
Jackson Müller conta que comprou a Glock do promotor em março. “No dia 3 daquele mês, invadiram e quebraram minha casa. Roubaram as três armas que eu tinha, adquiridas ao longo do tempo pelo trabalho que executo. Lido com ambientes ermos, meu filho já foi assaltado. Dias depois, comprei a arma do Paulo.” O biólogo salienta que providenciou o registro por meio do Exército. “Quando a Polícia foi a minha casa, a documentação estava no clube de tiro. Meu advogado já pediu a devolução da pistola.”


Amigos desde caso em Estância Velha

O biólogo frisa que é amigo do promotor desde 2006, quando foi interventor da Utresa, empresa de resíduos de Estância Velha apontada na época como responsável por tragédia ambiental no Rio dos Sinos. Milhares de peixes aparaceram mortos no trecho entre Portão e Sapucaia do Sul. “O Paulo atuava como promotor em Estância Velha.” O caso resultou na condenação e prisão do diretor-técnico da Utresa da época, Luiz Ruppenthal.

Também professor em universidades, Müller alega que empregou o cunhado do promotor por questões profissionais e de confiança. “O Tiago trabalhou comigo em 2014, ainda como acadêmico de biologia. Quando fui para Canela, a ideia era compor a equipe que a gente conhece.”

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