Família cai no golpe do tesouro enterrado em Dois Irmãos e casal é indiciado em Estância Velha
Vítimas pagaram R$ 75,7 mil pela promessa de R$ 10,8 milhões em ouro escondidos no bairro Travessão
Convencida de que havia tesouro enterrado em chácara no bairro Travessão, em Dois Irmãos, uma família da cidade deu R$ 75,7 mil a um casal de golpistas. Chegou a vender um carro e a pedir dinheiro emprestado para bancar a mineração. Vigarista de longa data, um homem de 56 anos chegou a simular a descoberta de 17 barras de ouro na propriedade. Ele e a esposa, de 57 anos, foram indiciados na semana passada por estelionato. Os nomes não são informados por conta da Lei de Abuso de Autoridade.
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Animação virou euforia
A luz vermelha não parava de acender e, segundo o golpista, o aparelho chegou a queimar de tanto metal precioso que havia no solo. Ao cavocar, foram retiradas duas barras idênticas a ouro. A animação virou euforia. O homem calculou uma fortuna de R$ 10,8 milhões no subsolo e disse que era preciso minerar a área. O irmão da vítima, também pedreiro, de 55 anos, vendeu um Agile em uma revenda, por R$ 26 mil, e entregou ao golpista. Ele já tinha emprestado o carro para o vigarista cuidar de negócios relativos à descoberta do ouro. Na segunda escavação foram desenterradas três peças, depois sete e, por último, cinco.
Empréstimos e economias
O estelionatário ficou com as 17 barras sob argumento de negociá-las no interior de São Paulo. Durante a suposta viagem, alegou que precisava de mais dinheiro para os custos de combustível, hotel e até com a quebra do carro dele, uma picape Mitsubishi. Os irmãos pediram R$ 39 mil emprestados, a parentes e amigos, e sacaram as economias, que foram entregues à esposa do golpista. No início de março, quando o homem pediu mais R$ 45 mil, para outras despesas, as vítimas foram à Polícia.
Delegado diz que barras eram lata pintada
O delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, conta que conseguiu mandados de busca na residência e na revenda de veículos onde trabalha o golpista, também em Estância, cumpridos no dia 7 do mês passado. Ele frisa que a intenção era encontrar o dinheiro das vítimas, para ressarci-las, e provas para o inquérito.
“Localizamos, na moradia alugada pelos indiciados, quatro lingotes de material metálico que simulavam ser barras de ouro. Era lata pintada com tinta dourada”, declara o delegado. No interrogatório, há duas semanas, acompanhado de advogada, o casal ficou em silêncio. “Felizmente pudemos neste caso responsabilizar os golpistas. Mais uma vez, serve de alerta à população para ter cuidado com as extorsões e estelionatos, cibernéticos ou não”, frisa Sauthier.
Vigarista age na Serra e Vale do Sinos
O indiciado já tinha antecedentes por estelionato, estupro, roubo, extorsão, furto, receptação, apropriação indébita, lesão corporal, ameaça, denunciação caluniosa e até por se hospedar em hotel e ir embora sem pagar as diárias. A maior parte dos crimes aconteceu na cidade natal, em Guaporé, na Serra, e há delitos também em Novo Hamburgo, Estância Velha e Campo Bom. A esposa, catarinense de Coronel Freitas, não tinha passagens policiais.
“Ele queria sempre mais dinheiro da gente”
O pedreiro de 55 anos diz que a família está se esforçando para quitar as dívidas contraídas com o golpe e observa que poderia ser ainda pior. “Ele (indiciado) queria sempre mais dinheiro da gente. Agora estamos correndo atrás. Tivemos que comprar um carrinho financiado, porque precisamos para ir ao trabalho, e dobrar o serviço pra pagar os empréstimos. Estamos passando aperto. Não é fácil.”
A vítima faz uma revelação. “Foi ele ou alguém da confiança que enterrou aquelas barras na nossa propriedade. Era bem no mato. Parecia ouro de verdade. A gente ficou feliz pela esperança de melhorar de vida.” O pedreiro acrescenta que a expectativa causou acidente. “Minha cunhada foi cavocar a terra, não achou nada e ainda ganhou ferrões de abelhas pretas. O braço ficou bem inchado.”