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Notícias | Região VÍTIMAS RELATAM CASOS

Piadas, mensagens, olhares e passadas de mão: Hospital é condenado após chefe assediar funcionárias

Vítimas relatam momentos aterrorizantes com o assediador e qual teria sido a conduta da casa de saúde; apesar da decisão, ainda cabe recurso na Justiça

Publicado em: 01.06.2023 às 13:46 Última atualização: 01.06.2023 às 14:52

O Hospital de Montenegro foi condenado por casos de assédio sexual contra ex-funcionárias dentro da instituição. Ação é resultado de cinco denúncias ao Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT/RS).

A sentença da Vara do Trabalho da cidade saiu na terça-feira (30), contudo, o caso trâmita em segredo de Justiça.

Funcionário do hospital virou réu na esfera criminal após denúncias de assédio sexual
Funcionário do hospital virou réu na esfera criminal após denúncias de assédio sexual Foto: Hospital Montenegro/Divulgação

A entidade de caráter filantrópico e 100% SUS é administrada pela Associação Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas de Montenegro (AOASE) e terá que pagar indenização ao fundo de amparo ao trabalhador, que no total soma R$ 50 mil, e realizar atividades socioeducativas, como cursos e palestras que combatem esse tipo de crime.


O hospital ainda pode recorrer da decisão da Justiça do Trabalho. 

Os casos julgados aconteceram entre 2014 e 2022. As vítimas, que trabalhavam em diferentes setores administrativos, relataram que um funcionário da casa de saúde que ocupa cargo de liderança é o autor das importunações. As ex-funcionárias também registraram denúncias na Polícia Civil da cidade.

A reportagem conversou com algumas vítimas, que pediram para ter as identidades preservadas. Por isso, vamos identificá-las como: Vítima A e Vítima B. A forma como o agressor agia era similar. “Piadas, ‘elogios’, mensagens, vídeos, olhares”, detalha a Vítima A.

A outra mulher conta que em um dos episódios mais aterrorizantes o assediador chegou a passar a mão na perna dela e a dizer que teriam “coisas mais interessantes para falar além do trabalho”.

"Ele seguia uma outra colega, criava situações para ficar a sós com ela. Elogiou as pernas de outra. Passou a mão em outra", acrescenta a Vítima A, destacando que outras funcionárias, além das denunciantes, eram alvos. 

Além dos ataques de conotação sexual, as mulheres contam que ele ainda usa do cargo superior para intimidá-las a não denunciar os assédios. O homem dizia que ninguém acreditaria nelas por conta do seu cargo no hospital.

As vítimas ainda relatam que comunicaram o hospital sobre os casos, mas que, dos gestores do seu setor, o discurso geralmente era de que não poderiam ajudar. Sem sucesso com os líderes dos setores, as vítimas procuravam pela coordenação da instituição.

“Disseram para que eu abaixasse a cabeça e realizasse o meu trabalho, pois eu não era a primeira e não seria a última”, diz a Vítima B.

“Éramos seis denunciantes inicialmente, uma delas desistiu porque precisava do emprego”, lembra a Vítima A. Quatro das colaboradoras foram demitidas após denunciarem os casos. Apenas uma se demitiu da casa de saúde antes de relatar as autoridades os assédios que sofria.

A audiência desse caso na esfera trabalhista estava agendada para acontecer em dezembro passado, mas, na ocasião, uma das partes apresentou atestado médico e a mesma foi adiada.

Em Audiência Cível Pública realizada no dia 25 de abril de 2023, nesse dia, a AOASE não aceitou assinar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que é um instrumento com a finalidade de adequar condutas tidas como irregulares pela legislação. Assim, na última terça-feira acabou sendo declarada a sentença da denúncia. 

"O processo tramita em segredo de Justiça, motivo pelo qual não podemos dar maiores detalhes, mas é público pelo diário oficial que a ação movida pelo MPT foi julgada procedente e a Associação Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas de Montenegro condenada pela prática/existência dos assédios sexuais denunciados", diz o advogado de uma das vítimas.

O nome do responsável pela defesa não foi divulgado para que a vítima não seja identificada. "A gente não ganha nada em valor monetário, ganha a paz para poder trabalhar", disse a Vítima A após a sentença. 

O que diz o hospital

Em nota, o Hospital de Montenegro declara que "repudia qualquer tipo de assédio, apoia e defende o ambiente de trabalho saudável. Com relação ao caso em questão, considerando que ainda não está concluído judicialmente e tramita em segredo de Justiça, a AOASE está impedida legalmente de prestar informações."

A reportagem também procurou a diretora da casa de saúde e a questionou sobre o afastamento do funcionário acusado de praticar assédio sexual nas dependências da instituição. “Até o momento, a mantenedora não recebeu nenhum documento por escrito, estamos esperando a sentença. Com certeza tomaremos providências”, afirma Eliane Daudt.

Funcionário é réu na esfera criminal

O homem acusado de assediar as ex-funcionárias do Hospital de Montenegro também foi investigado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da cidade, que o indiciou pela prática criminosa. O Tribunal de Justiça do Estado (TJRS) recebeu a denúncia do Ministério Público gaúcho (MPRS) no dia 15 de dezembro de 2022 e aceitou o pedido. O funcionário da casa de saúde virou réu da Justiça na esfera criminal. 

A defesa do funcionário foi procurada, mas até a publicação dessa reportagem não retornou o contato. O espaço permanece disponível para manifestação. 

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