Nível de rios baixa e dia é marcado por recomeços para as famílias atingidas por enchente
Em Montenegro, o nível do Rio Caí baixou cerca de 40 centímetro ao longo do dia. Já o Rio dos Sinos estabilizou e começa a diminuir lentamente
A segunda-feira (19) foi de recomeços e de muito trabalho, após as fortes chuvas que atingiram a região e inundaram inúmeras cidades. Móveis encharcados expostos nas calçadas, lodo pelas vias, árvores caídas, ruas destruídas e moradores com rodos e mangueiras foram algumas das cenas vistas ao longo do dia nos locais onde as águas da enchente já recuaram.
Em Novo Hamburgo o Rio dos Sinos estabilizou ao longo do dia. Na medição realizada das 18 horas, na captação da Comusa, estava em 8,02 metros. Um centímetro a menos que pela manhã.O índice é o maior nível desde a enchente histórica de 2013, quando chegou a 8,48 metros. OSinos ainda atingia fortemente a Vila Marrocos, na Santo Afonso; Vilas Getúlio Vargas e Kipling, em Canudos; e Integração e Porto das
Tranqueiras, em Lomba Grande. Em Campo Bom, a medição das 17h30, marcava 7,55 metros. A medição chegou a 7,60 metros no domingo.]
Já o Rio Caí seguia em recuo nos municípios afetados. Em Montenegro, por volta das 9 horas, a cidade estava com 7,13 metros. No final da tarde, havia recuado quase 40 centímetros, chegando a 6,75 metros (a cota de inundação é 6 metros). Em São Sebastião do Caí, às 18 horas, na Barca do Caí, estava em 8,15 metros, já bem abaixo da cota de inundação, que é de 10,5 metros.
Organizar o que restou
Em Montenegro, o Rio Caí afetou os bairros Centro, Industrial, Ferroviário, Olaria e Municipal. De acordo com a Prefeitura, foram cerca de 8 mil pessoas atingidas, entre elas o conferente Marcos Cabral Silva, 46. Ele, a esposa e a filha vivem há seis meses em uma residência do bairro Ferroviário e contam que perderam cerca de 90% de tudo o que tinham. Com uma mangueira e as calças dobradas na altura da canela, ele fazia a limpeza da casa na manhã desta segunda.
A casa ficou tomada pela água em questão de duas horas e a família precisou deixar para trás tudo o que havia conquistado. “A única coisa que eu consegui salvar foi a geladeira e parte das roupas. Foi a primeira vez que eu passei por isso e é complicado”, relata. “Vamos lavar, limpar e tocar a vida”, finaliza. Segundo a Prefeitura, na cidade ao menos 15 pessoas ainda estão desabrigadas.
Em outro ponto da cidade, no bairro Centro, o operador de máquina Rubimar Cézar, 38, e a caixa crediarista Sabrina Nunes, 39, ainda contabilizavam o prejuízo que tiveram. A água que entrou na residência ainda na sexta-feira, continuava na parte inferior da residência. Sabrina mora na localidade desde que nasceu e próximo a eles moram também os pais de Sabrina, tios, primos e sobrinhos. Todos tiveram suas residências afetadas pela água.
O casal vive com duas filhas de 7 e 17 anos e esá sem poder ir trabalhar desde a sexta-feira (16). “Faltou pão e a gente não tinha como buscar. Uma comadre nossa veio trazer de barco ovos para a gente poder fazer um bolo”, relata Rubimar. Sabrina diz que agora só resta “cuidar do emocional e da limpeza".
Leviandade trouxe revolta
Sem luz desde sexta-feira, a árvore que ficava no pátio da casa de João Muller, 64, e Neusa Pedroso, 74, tombou, levando junto o cercado e o poste de energia. O casal diz que a água nunca havia chegado até a residência deles e reclamam sobre a maneira leviana com que foi tratado o avanço da água na cidade. “Eles disseram que seria só uma lâmina de água. A gente não achou que chegaria aqui. Eles deveriam ter alertado”, diz João.
Em um vídeo que circula pelas redes sociais, o chefe da Defesa Civil, Carlos Ferrão, faz um comunicado à população dizendo que a água do Rio Caí não passaria de “uma lâmina de água”. Conforme a Prefeitura de Montenegro, a preocupação no momento é minimizar os efeitos das enchentes e “quando este trabalho – prioridade máxima – for concluído, serão apuradas as responsabilidades e tomadas as providências para que situações assim não se repitam”.
Em Sapiranga, avenida ficou destruída
Quem passava pela Avenida Mauá, na esquina com a as Avenidas 20 de Setembro e João Corrêa, poderia avistar um cenário de guerra. O trecho ficou completamente destruído com a força da água.
Os bairros mais afetados, além do Centenário, foram o Porto Palmeira, Floresta e área rural no entorno do Ferrabraz, de acordo com a Prefeitura. No entanto, no bairro São Luiz, diversas pessoas permanecem ilhadas e contam com o auxílio de um barco da Defesa Civil para se deslocarem. “Eu e a minha irmã tivemos que sair de casa e ficar na casa de parentes para eu poder ir trabalhar”, diz uma moradora que prefere não ser identificada.
Retroescavadeira faz transporte de moradores em Campo Bom
Em Campo Bom, quem mora no bairro Barrinha ainda permanece ilhado. Há quem se arrisque a passar caminhando pelas águas, outros utilizam bicicletas e botas de borracha para se deslocarem e há quem pegue carona com as retroescavadeiras disponibilizadas pela Prefeitura para sair e voltar do bairro.
Na cidade, cerca de 160 pessoas ficaram desalojadas e destas, 45 estão no Ginásio Municipal. Conforme a prefeitura, essa foi a maior chuva em Campo Bom desde 1984. O volume acumulado de chuva na sexta-feira (16) chegou a 209mm, o maior de todo o RS para o mês de junho desde 1961.
Durante a tarde desta segunda, servidores do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) levaram, também de retroescavadeira, 150 cestas básicas para os moradores do bairro afetado. “Aqui virou, basicamente, uma linha de ônibus com as retroescavadeiras”, descreve o Secretário de Assistência Social da cidade, Gabriel Colissi.