Ciclone deixa famílias há mais de 90 horas sem poder voltar para casa
Em Novo Hamburgo, alagamentos atingiram diferentes bairros em momentos distintos. Abrigos viram o lar temporário de quem perdeu tudo
Residências abaixo de água, pessoas ilhadas, ruas tomadas pelo lodo e famílias que chegam a estar há mais de 90 horas acomodadas em abrigos são alguns dos vestígios deixados pelas enchentes em diversas cidades da região. Nos locais onde a água já baixou, o que restou foram móveis e eletrodomésticos encharcados e prontos para descarte.
Em Novo Hamburgo, o primeiro abrigo a ser montado para receber as vítimas da enchente foi no bairro Santo Afonso, na Base de Ações Comunitárias Integradas (Baci). Há quatro dias os aposentados Lourdes Kumtz da Silva, 59, e Ari Rosa da Silva, 69, estão vivendo no local, após sua casa ser invadida pela água. Além deles, a filha do casal, Lucinara Kumtz Fernandes, 25, o genro e os netos, também passaram a ter o abrigo como lar.
Cadeirante, Lourdes conta que foi por volta das 4h30 de sexta-feira (16) que a casa onde vivia com o esposo começou a alagar. Eles só conseguiram sair com vida da residência porque o genro foi até o local acordá-los. “Ela [Lourdes] ficou deitada na cama até chegar o resgate. Levou 4 horas até eles chegarem para tirar ela”, conta Lucinara.
e a tarde de segunda-feira (19) foi de muito trabalho para limpar os vestígios deixados pela enchente. “Estava um barral. Tive que lavar tudo com lava jato e vi que perdemos tudo. Armário, fogão, móveis, roupas e até geladeira”, detalha Ari. A família pretendia retornar para suas casas no fim da tarde desta terça-feira (20).
Aguardando água baixar
Em Canudos, onde há dois abrigos, muitos pontos do bairro permanecem imersos. Além da Escola Municipal Martha Wartenberg (Rua Sílvio Gilberto Christmann, 1351), nesta terça-feira a prefeitura abriu um abrigo no Instituto Estadual Seno Frederico Ludwig (Ciep) (Rua Amalie Thon, 50).
Alojada na Escola Municipal Martha Wartenberg desde sábado (17), a enfermeira Cristina Quiesa, 31, conta que essa é a primeira fez que passa por essa situação e confessa: “Eu não vou mentir, chorei”. Ela é mãe da pequena Emanuelly, de 11 meses, e está no local com o marido, a cunhada, a sobrinha e os sogros.
Todos os dias, o sogro de Cristina Cesário Reis, 61, vai até o local onde moravam para verificar o nível da água. Nesta terça-feira, não foi diferente. Ele disse que a água ainda batia em sua cintura. “Dentro de casa não tem mais água, só que no portão tá passando do joelho”, relata.
Conforme a prefeitura, são 80 pessoas alojadas em cada um dos abrigos no bairro Canudos. No município, o número de pessoas desabrigadas chegou a 454 e agora já são 321. Cerca de 10 mil pessoas foram atingidas pela enchente em toda Novo Hamburgo, sendo os bairros Santo Afonso (Vilas Palmeira, Marrocos e Kroeff), Canudos (Visital, Esmeralda, Kippling e Getúlio Vargas) os mais afetados.
Número de desabrigados sobe em Campo Bom
Em Campo Bom, o número de desabrigados subiu desde a segunda-feira (19). Conforme a Prefeitura, na segunda eram 45 pessoas desabrigadas. Nesta terça-feira, o número aumentou para 55. Bairros como a Barrinha seguem tomados pela água.
Na cidade, o nível do Rio dos Sinos baixou cerca de 15 centímetros. A medição feita às 12h30 desta terça-feira (20) foi de 7,45 metros. O máximo registrado pela cidade foi de 7,60 metros, às 17 horas do último domingo (18).