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Notícias | Região DESALOJADOS

Ciclone deixa famílias há mais de 90 horas sem poder voltar para casa

Em Novo Hamburgo, alagamentos atingiram diferentes bairros em momentos distintos. Abrigos viram o lar temporário de quem perdeu tudo

Publicado em: 20.06.2023 às 17:59

Residências abaixo de água, pessoas ilhadas, ruas tomadas pelo lodo e famílias que chegam a estar há mais de 90 horas acomodadas em abrigos são alguns dos vestígios deixados pelas enchentes em diversas cidades da região. Nos locais onde a água já baixou, o que restou foram móveis e eletrodomésticos encharcados e prontos para descarte.

Lucinara (e), o filho, Ari e Lourdes
Lucinara (e), o filho, Ari e Lourdes Foto: Júlia Taube/GES Especial

Em Novo Hamburgo, o primeiro abrigo a ser montado para receber as vítimas da enchente foi no bairro Santo Afonso, na Base de Ações Comunitárias Integradas (Baci). Há quatro dias os aposentados Lourdes Kumtz da Silva, 59, e Ari Rosa da Silva, 69, estão vivendo no local, após sua casa ser invadida pela água. Além deles, a filha do casal, Lucinara Kumtz Fernandes, 25, o genro e os netos, também passaram a ter o abrigo como lar.

Cadeirante, Lourdes conta que foi por volta das 4h30 de sexta-feira (16) que a casa onde vivia com o esposo começou a alagar. Eles só conseguiram sair com vida da residência porque o genro foi até o local acordá-los. “Ela [Lourdes] ficou deitada na cama até chegar o resgate. Levou 4 horas até eles chegarem para tirar ela”, conta Lucinara.

A família mora há cerca de 15 anos na Vila Palmeira, no bairro Santo Afonso, e afirma nunca terem visto algo parecido. Na localidade onde vivem, a água já baixou

e a tarde de segunda-feira (19) foi de muito trabalho para limpar os vestígios deixados pela enchente. “Estava um barral. Tive que lavar tudo com lava jato e vi que perdemos tudo. Armário, fogão, móveis, roupas e até geladeira”, detalha Ari. A família pretendia retornar para suas casas no fim da tarde desta terça-feira (20).

De acordo com o coordenador dos abrigos, Daniel Bota, o abrigo na Baci foi o primeiro a ser montado pela Prefeitura de Novo Hamburgo e chegou a abrigar 280 pessoas. Até a manhã desta terça-feira, 79 pessoas ainda continuavam no local. “A enchente começou na Santo Afonso. Quando a água baixou no bairro, começou a subir aqui no bairro Canudos”, explica.

Aguardando água baixar

Em Canudos, onde há dois abrigos, muitos pontos do bairro permanecem imersos. Além da Escola Municipal Martha Wartenberg (Rua Sílvio Gilberto Christmann, 1351), nesta terça-feira a prefeitura abriu um abrigo no Instituto Estadual Seno Frederico Ludwig (Ciep) (Rua Amalie Thon, 50).

Cristina e família no abrigo, em Novo Hamburgo
Cristina e família no abrigo, em Novo Hamburgo Foto: Júlia Taube/GES Especial

Na medição das 11 horas desta terça-feira, o nível do Rio dos Sinos estava a 7,78 metros. Na segunda-feira (19), o nível chegou a 8,03 metros, o maior desde a enchente histórica de 2013, quando atingiu 8,22 metros, segundo a Defesa Civil.

Alojada na Escola Municipal Martha Wartenberg desde sábado (17), a enfermeira Cristina Quiesa, 31, conta que essa é a primeira fez que passa por essa situação e confessa: “Eu não vou mentir, chorei”. Ela é mãe da pequena Emanuelly, de 11 meses, e está no local com o marido, a cunhada, a sobrinha e os sogros.

Todos os dias, o sogro de Cristina Cesário Reis, 61, vai até o local onde moravam para verificar o nível da água. Nesta terça-feira, não foi diferente. Ele disse que a água ainda batia em sua cintura. “Dentro de casa não tem mais água, só que no portão tá passando do joelho”, relata.

Bairro Canudos
Bairro Canudos Foto: Júlia Taube/GES Especial

A família está sem poder ir trabalhar e sobrevive das doações que chegam da população. “A gente perdeu praticamente todas as coisas. A gente já tinha pouco. Agora, temos menos ainda”, diz a enfermeira.

Conforme a prefeitura, são 80 pessoas alojadas em cada um dos abrigos no bairro Canudos. No município, o número de pessoas desabrigadas chegou a 454 e agora já são 321. Cerca de 10 mil pessoas foram atingidas pela enchente em toda Novo Hamburgo, sendo os bairros Santo Afonso (Vilas Palmeira, Marrocos e Kroeff), Canudos (Visital, Esmeralda, Kippling e Getúlio Vargas) os mais afetados.

Bairro Canudos
Bairro Canudos Foto: Júlia Taube/GES Especial

Além dos abrigos montados na Baci (Rua Buenos Aires, 217), na Escola Martha Wartenberg e no Ciep, o abrigo estruturado no bairro Lomba Grande segue ativo. Ele fica na Igreja Mevam, na Rua Leopoldo Petry, 2530.

Número de desabrigados sobe em Campo Bom

Em Campo Bom, o número de desabrigados subiu desde a segunda-feira (19). Conforme a Prefeitura, na segunda eram 45 pessoas desabrigadas. Nesta terça-feira, o número aumentou para 55. Bairros como a Barrinha seguem tomados pela água.

Famílias contabilizam estragos da enchente
Famílias contabilizam estragos da enchente Foto: Júlia Taube/GES Especial

Morador do bairro Barrinha, Ricardo Silva Santos, 36, encarou a água e atravessou, com o filho sentado no banco traseiro da bicicleta, a parte tomada pela água. Ele conta que na casa onde vive a água não entrou, mas os moradores seguem ilhados. “Eu tô levando ele [o filho] para tomar um banho na casa de um amigo. Lá dentro não tem o que fazer. Cortaram a água e a luz”, relata.

Na cidade, o nível do Rio dos Sinos baixou cerca de 15 centímetros. A medição feita às 12h30 desta terça-feira (20) foi de 7,45 metros. O máximo registrado pela cidade foi de 7,60 metros, às 17 horas do último domingo (18).

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