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Notícias | Região NOVA DECISÃO

Juiz renova suspensão do médico investigado por 38 mortes em Novo Hamburgo

João Couto fica proibido de fazer cirurgias por mais quatro meses, medida que a defesa considera ilegal e desnecessária

Publicado em: 23.06.2023 às 21:18

O juiz Guilherme Machado da Silva, da Vara do Júri de Novo Hamburgo, proibiu o médico João Couto Neto de fazer cirurgias por mais quatro meses. A decisão, da tarde desta sexta-feira (23), vem depois da suspensão de 180 dias do profissional investigado pela morte de 38 pacientes, que havia vencido no último dia 10. Conforme revelado pela reportagem do Grupo Sinos, Couto se mudou para São Paulo, onde conseguiu novo registro profissional e trabalha em hospitais.

Couto foi intimado em casa na tarde de 12 de dezembro | Jornal NH
Couto foi intimado em casa na tarde de 12 de dezembro Foto: Reprodução

O pedido da renovação da suspensão foi feito há duas semanas pela 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, que aguarda complexos laudos da perícia para concluir o inquérito. Com base nos prontuários médicos, depoimentos e outros documentos apreendidos, o chefe do órgão, delegado Tarcísio Kaltbach, vai decidir se indicia o médico. Couto poderá ser enquadrado em 38 homicídios dolosos e mais de 100 lesões corporais devido a pacientes mutilados ou com sequelas.

O magistrado pediu parecer do Ministério Público, que se mostrou favorável à suspensão. Depois solicitou manifestação da defesa, que contestou o deferimento da medida. Ao proibir somente cirurgias, a decisão segue permitindo que o médico possa trabalhar no atendimento ambulatorial. O inquérito vai longe. São dezenas de casos analisados. Perfurações de intestino, pâncreas e aorta, além de pulmão 'colado' à pele e retirada de umbigo, estão entre as denúncias contra o profissional.

A mudança para São Paulo

No dia 23 de fevereiro deste ano, o investigado obteve registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Apresentou uma foto com visual diferente. De cabelo curto e sem barba. O cadastro foi feito com a observação “suspenso parcialmente”, assim como consta na inscrição no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), onde responde a uma sindicância sobre a conduta profissional, que corre em sigilo.

Natural de Bagé, Couto vendeu alguns bens em Novo Hamburgo, onde ganhou projeção na carreira, e se mudou com a família para a capital paulista. Por indicação de colegas, conseguiu trabalho em pelo menos dois hospitais.

Advogado se posiciona

Na defesa do médico, o advogado Brunno de Lia Pires se manifestou por meio de nota nesta sexta: “A renovação da medida cautelar impedindo o médico de realizar cirurgias, além de não observar os requisitos legais necessários, mostra-se claramente desnecessária e não se ampara nos elementos constantes nos autos da investigação. Embora não houvesse intenção do profissional em realizar cirurgias enquanto perdurarem as investigações, a restrição afeta a reputação do médico impondo severo ônus à sua atividade profissional, sem base jurídica adequada. A Defesa ainda avaliará a possibilidade de tomar medidas judiciais para reversão da decisão”. 

Operação foi desencadeada em dezembro do ano passado

Um dos cirurgiões mais requisitados do Vale do Sinos, Couto foi alvo de operação da 1ª DP de Novo Hamburgo na tarde de 12 de dezembro do ano passado. Os agentes cumpriram três mandados de busca e apreensão (MBAs) - no consultório, situado no Centro Clínico Regina, no Hospital Regina, onde concentrava as operações, e na casa, um apartamento de alto padrão no Centro da cidade.

Computadores, celulares e prontuários médicos foram recolhidos para perícia. Na residência, o médico foi comunicado da suspensão para cirurgias.

Até então, o inquérito era sobre cinco pacientes mortos e nove com sequelas por “intervenções desastrosas”, conforme definido pelo delegado Tarcísio. Com a repercussão, as denúncias foram aumentando ao ponto de passar de cem.

“Pautei toda minha vida profissional com ética”

A única vez que Couto falou à reportagem foi no dia dos mandados. “Pautei toda minha vida profissional com ética e respeito aos meus pacientes. Sou cirurgião, trabalho com doenças graves. A gente perde pacientes, alguns vão a óbito, é do nosso trabalho. Tenho uma infinidade de cirurgias, com mais de 20 mil pacientes, que gostam muito de mim."

Já o Hospital Regina sustenta que o médico não tinha qualquer vínculo empregatício ou de prestação de serviços com a instituição. Observa que ele apenas usava as dependências para as cirurgias, assim como outros profissionais.

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