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''Eu me olhei no espelho e me reconheci'', diz idoso sem nariz que recebeu prótese nasal

Morador de Feliz teve órgão removido após câncer em julho de 2018. Em março deste ano, o caminhoneiro aposentado ganhou uma prótese

Publicado em: 20.09.2023 às 07:00 Última atualização: 20.09.2023 às 09:18

Depois de quase cinco anos, Ricoberto Bohn, 70 anos, voltou a se reconhecer diante do espelho. Vítima de um câncer agressivo, em julho de 2018 precisou remover o nariz por completo, restando um buraco na face. Em março deste ano, o caminhoneiro aposentado ganhou uma prótese nasal no formato e na cor do seu nariz de nascença.

Bohn está feliz com sua nova aparência graças à prótese | Jornal NH
Bohn está feliz com sua nova aparência graças à prótese Foto: Débora Ertel/GES-Especial

O morador da localidade de São Roque, no município de Feliz, Vale do Caí, não esconde a satisfação com sua aparência. "Eu olhei no espelho e me reconheci. Estou feliz. Me senti normal de novo", disse ele entre sorrisos. A prótese hoje só é retirada no momento de dormir e quem não sabe do passado de Bohn pode olhar para ele e talvez nem perceba que o nariz não é natural.


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A mudança na aparência e na qualidade de vida dele só foi possível graças ao grupo Prótese Bucomaxilofacial da faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Trata-se de um trabalho conjunto de alunos e voluntários, sob a coordenação da professora Adriana Corsetti, no desenvolvimento de próteses faciais.

De acordo com Bohn, há cinco anos ele começou a sentir uma dor muito forte no nariz. Procurou atendimento no posto de saúde e foi encaminhado para o Hospital da PUC, em Porto Alegre. Uma semana depois da primeira consulta, já passou por cirurgia de remoção do nariz, pois sua situação era muito grave. Naquele momento, o tumor já estava comprometendo também a boca de Bohn. "Era uma dor horrível. Nenhum remédio adiantava. Só queria que a dor passasse. Só eu sei o que passei", lembra.

Foram necessárias 38 sessões de radioterapia depois do procedimento. "Quando tudo terminou eu pensei: o que vai ser de mim agora? O pessoal dizia: 'lá vai o cara sem nariz'", conta.

O caminhoneiro chegou a receber uma outra prótese, mas não era confortável e tinha uma cor clara, onde rapidamente se percebia que ele não tinha mais o nariz.

Modelo ideal surgiu pela Ufrgs


Antes e depois da prótese definitiva fornecida pela Ufrgs | Jornal NH
Antes e depois da prótese definitiva fornecida pela Ufrgs Foto: Ufrgs/Divulgação

Entre 2021 e 2022, o morador de Feliz passou a frequentar o grupo Prótese Bucomaxilofacial, quando a equipe deu início aos testes de moldes e de cor. Até que em março deste ano, as alunas Monique Blank e Laura Prato, com orientação de Adriana e da especialista Ana Schoer, chegaram ao modelo ideal. "Quando minhas filhas viram, começaram a chorar de alegria", descreve.

Nádia Silene Bohn, 43, e Josi Lisiane Bohn, 39, sempre estiveram próximas do pai. Além disso, a companheira Lúcia Bohn, 68, era a responsável por realizar os curativos, ao menos, em três vezes ao dia. Neste período, o caminhoneiro aposentado precisava ter cuidados redobrados com sua saúde, pois corria o risco de adquirir alguma bactéria por conta do buraco que tinha no rosto.

Com necessidade de usar óculos, Bohn explica que colocava uma fita no acessório e depois prendia na testa para evitar que caísse. "A gente tem que ser forte", desabafa.

Ele conta que rezava muito e pedia a Nossa Senhora do Caravaggio forças para enfrentar sua condição, pois sabia que não era de fácil solução. "Eu nunca pensei que ia conseguir um nariz de novo. Hoje não tenho mais nada. Não tenho mais câncer, não tenho mais dor", se alegra.

Bohn comemora também o resultado do trabalho do grupo de prótese que agora conta com um molde do seu nariz, tanto da parte externa quando da interna, onde ficam as cartilagens, além da pigmentação para fazer a cor. "Se esse nariz aqui estragar, eles podem fazer outro pra mim sem problemas", explica. "Ser feliz é ter saúde", finaliza.

Doações podem ajudar na produção de mais próteses

O grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) faz próteses oculares, auriculares nasais, óculos-palpebrais faciais e as obturadoras (do céu da boca). De 2017 até hoje, o projeto já atendeu 144 pessoas e há uma fila de espera de 82 pacientes, a maioria de pessoas carentes. A iniciativa funciona em uma sala improvisada e conta uma campanha para arrecadar recursos: voaa.me/projeto-proteses-realistas.

Débora Ertel

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Débora Ertel

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