Palavra de honra

Deve ter havido algum tempo e lugar em que se prescindia contratos escritos e tudo era resolvido com a palavra. Não havia papo furado! A palavra de quem a proferia era honrada. Combinado era combinado. Ninguém engolia sua própria palavra. Aliás, isso nem passava pela cabeça dos viventes. Descumprir uma palavra proferida seria como não ser quem se era. Significava trair a própria dignidade, valor inquestionável. Com o tempo, as palavras foram ganhando meandros. Mais do que sons propagados pelo ar, ganharam tons e entonações. A mesma composição de sílabas pode ter sutis ou drásticas mudanças de significado dependendo da forma como é proferida, o volume e o momento, os gestos que a acompanham, os contornos que vão se formando no rosto de quem a pronuncia.

Quem não se arrependeu de ter dito a coisa certa na hora errada? Ou de ter dito a coisa errada em momentos importantes? Ou de ter mal dito o que poderia ser bem dito? Bendito seja todo aquele que aprendeu a valorizar a palavra. Pensamento e sentimento em ação, a palavra é a força dada pela voz inteligente que move o mundo com ideias e desejos. Traz ventura e desventura. Palavra, faca que corta. Palavra, remédio que apazigua. Palavra poder.

E, como todo poder, exige cuidado. Tem momentos na vida da gente que tudo pode mudar, dependendo da palavra que proferimos e de como ela é ouvida. Nesses dias, uma amiga repetiu algumas palavras que eu havia articulado há mais de 10 anos. Palavras que, naquela época, faziam sentido e que, pelo grau de sua importância à minha interlocutora, ficaram presas em sua memória. Peço à sagrada deusa da inspiração que nos acompanhe com sua sabedoria para que nossa palavra seja a verdadeira expressão do que temos de melhor em nós. E que jamais traia nossa honra.

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