Mundo sem graça

A fraqueza sempre foi um atributo incompatível na vida dos vencedores. O mundo não é para os fracos, lembram os bem-sucedidos. Em tudo é preciso poder. Em tudo?

Nos desafios que levam à vitória em outro mundo, são os fracos que vencem. Uma contradição, mas foi isto que Paulo ouviu de Deus: "Meu poder é mais forte quando você está fraco" (2 Coríntios 12.9). Aliás, esta carta bíblica não pode ser lida aos seguidores da teologia da prosperidade, nem interpretada corretamente nos princípios hermenêuticos. Após expor seus infortúnios devido à fome, doença, perseguição, Paulo diz um absurdo aos que "determinam" riqueza, saúde, sucesso em nome de Jesus: "Se existe motivo para eu me gabar, então vou me gabar das coisas que mostram a minha fraqueza" (11.30). Uma experiência terrível para um fariseu e cidadão romano com temperamento colérico. Ele confessa que insistiu em suas orações para que Deus o livrasse de uma terrível doença, mas ouviu do céu: "A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco".

Não é preciso trilhar o caminho da fraqueza para merecer as dádivas de Deus. A autopiedade, inclusive, é uma falsa virtude que desvia da "graça" divina. No contexto do Novo Testamento, graça é o presente imerecido que vem daquele que perdoa, renova, fortalece. É o carisma, outra tradução do grego, tão necessário num mundo onde é preciso ser forte, destemido, prepotente para vencer às custas da derrota dos outros. No final, esta é a fraqueza que leva à derrota num mundo sem graça.