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Opinião

Já viram algum caso assim?

Publicado em: 28.08.2023 às 03:00

Em Mijas, Espanha, María Dolores Vásquez foi presa, processada e condenada por matar Rocío Wanninkhof, de 19 anos. Com que provas? Pelo motivo: Dolores Vásquez era lésbica e havia sido companheira da mãe de Rocío. Não tinha um bom relacionamento com a moça que não aceitava o relacionamento de Dolores com sua genitora Alícia Hornos.

Pena? 52 anos de prisão. A "Guarda Civil", pressionada pela mídia, encaminhou sua investigação com foco em Dolores Vásquez que parecia se encaixar no perfil criminoso mais plausível (mesmo parecendo que a vítima tivesse sido atacada aleatoriamente), padrão não raro de investigações mundo afora. Errou e destruiu a vida de uma pessoa.

Depois de quase dois anos de prisão, uma Corte Superior da Andaluzia anulou a decisão e a mandou a novo julgamento, mas a luta de Dolores estava longe de encerrar. Todas as acusações só foram retiradas quando um DNA extraído de bituca de cigarro (próximo ao corpo de Rocío) combinou com outro encontrado no corpo de Sônia Carabantes, de 17 anos de idade, estuprada e assassinada em 2003 em local próximo de Mijas. Pertencia a Tony Alexander King, um britânico de 32 anos, que tinha uma longa ficha criminal como predador sexual no Reino Unido, adiante preso e condenado pelos homicídios de Rocío e Sônia.

A prisão de Dolores ocupou muito mais páginas de jornais e espaços na TV que sua absolvição. Os jornalistas (que escreveram coisas ofensivas sobre ela) nunca se justificaram; nunca admitiram "erramos", nem disseram "como podemos nos deixar levar tanto?" Foi mais assim: "Vamos esquecer tudo isso. Achamos o assassino. Deixem essa senhora para lá". Dolores Vásquez morreu, estigmatizada, em 27 de fevereiro de 2021. Ninguém lhe pediu desculpas.


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Sílvia Regina Becker Pinto

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