Unanimidade

Num país onde quase nada é unânime, um programa de rádio vem se perpetuando de forma suprapartidária: é ruim, ou melhor, péssimo, sob a administração de qualquer forma de governo. Seja a orientação de esquerda, centro ou direita, a Voz do Brasil segue imexível, inflexível, desde que o rádio é rádio. De veiculação obrigatória, de alguns anos para cá, começou a negociar o horário de sua difusão, desde que a emissora reporte com antecedência a imperiosidade de cobrir evento jornalístico ou geralmente esportivo, de relevância para sua audiência preferencial.

Antes chamado de A Hora do Brasil, o programa insiste em não arredar pé da mesma e cansativa fórmula editorial, já dinossauricamente desgastada por diversas gerações de afugentados ouvintes. Acredito que hoje, com todas as opções que as centrais multimídia oferecem nos automóveis, a fidelidade tenha caído à beira de zero.

Exceção feita aos políticos que são ouvidos em sonoras (entrevistas gravadas), e suas famílias, o grau de empatia que o material exerce sobre potenciais escutas é mínimo, porque além do conteúdo ser de duvidosa qualidade, a forma e o formato são pouco atraentes, espantando possíveis novos consumidores pegos de surpresa.

Como se não bastasse, arruinaram e afundaram consigo a magistral obra de Carlos Gomes, O Guarani, que nunca escolheu estar ali associada, para embalar notícias desinteressantes e conteúdos plantados, para não ir mais ao detalhe. Outro público que deve se deleitar com essa programação mandatória são os donos das emissoras, solenemente surrupiados de uma hora diária de seu rico faturamento.