Os testes para detectar a Covid-19 podem ser de diferentes tipos e devem obedecer a um período específico de aplicação. Isso evita, por exemplo, que ocorram resultados errados como o falso negativo para a doença. Um estudo coordenado pela pesquisadora Elisângela Teixeira, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal Ceará (UFC), aponta que quase metade dos testes realizados no Brasil para identificar a presença do coronavírus ou de seus anticorpos foi aplicada em "tempo inadequado" entre março e agosto de 2020.
De acordo com a pesquisadora, os testes sendo feitos fora do período adequado podem dar resultado falso negativo, o que impacta na transmissibilidade da doença. "O grande problema do falso negativo é que vai ter mais dificuldade de quebrar a cadeia de transmissão do vírus. As pessoas vão achar que não estão doentes ou que não tiveram a doença e vão continuar transmitindo esse vírus, transitando no trabalho, no transporte, entre os familiares, mas vão estar com o vírus na fase ativa da doença. Isso é uma coisa muito difícil para se controlar essa transmissão, isso impossibilita a questão do isolamento social", avalia a professora.
Conforme Elisângela Teixeira, vários fatores podem ter levado à essa taxa de erro na realização dos exames. Como o estudo foi realizado nos primeiros cinco meses da doença, "os profissionais não estavam capacitados em relação ao tempo de realização do teste, como também existia essa pressão popular para fazer o teste. Então as pessoas queriam realizar o exame a qualquer custo", acrescenta.
Veja a diferença entre eles e o momento ideal para a realização de cada um:
O RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction), deve ser realizado em pessoas que estão sintomáticas e preferencialmente entre o 3º e 7º dia de sintomas, ou após contato com alguém que testou positivo. Considerado padrão-ouro (referência) no diagnóstico da Covid-19, o exame exige pedido médico e a metodologia consiste na análise de uma amostra que é coletada por raspagem no nariz ou na garganta.
A confirmação é obtida a partir da detecção do vírus, processo dado pela transformação do RNA, molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo. "A PCR continua sendo o teste mais adequado para diagnóstico da doença, podendo inclusive fornece informação sobre a carga viral, que é uma informação importante na avaliação do quadro e das possibilidades de transmissão", observa Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica.BR do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
O resultado é obtido entre 24 e 48 horas. Após o 10º dia de sintomas, ele já não é mais recomendado.
Diferente dos exames de PCR e sorologia, os testes rápidos não necessitam equipamentos laboratoriais de apoio. Ainda assim, são dispositivos de uso profissional. Também dispensam pedido médico, mas não podem ser realizados pelo paciente, pois o diagnóstico clínico é relevante para a detecção da doença.
A metodologia consiste no uso de uma lâmina de nitrocelulose (uma espécie de papel) que reage com a amostra de uma pequena quantidade de sangue. O resultado sai entre 10 e 30 minutos, pelo mesmo dispositivo que recebe o sangue e apresenta uma indicação visual em caso positivo - reação química entre antígeno (substância estranha ao organismo) e anticorpo (elemento de defesa do organismo).
Para o especialistas, os testes rápidos são considerados aliados no combate à pandemia, contudo, a contraprova deve ser analisada caso haja dúvida. "Eles são úteis quando se busca uma alternativa de diagnóstico rápido, mas quando negativos e houver sintomas consistentes, o ideal é buscar confirmar o diagnóstico por PCR", apontou Spilki.
São testes sorológicos. Enquanto o RT-PCR deve ser realizado no início da doença, estes testes são feitos a partir da segunda semana, quando a quantidade de vírus diminui progressivamente e o indivíduo produz anticorpos contra o vírus, principalmente das classes IgG e IgM.
O resultado pode sair em até 4 horas. É feito pela coleta de sangue. "Os testes sorológicos tem indicação limitada, mais para pesquisa de eventual contato passado com o vírus, mas não são indicados para diagnóstico da doença", pondera Spilki.
A pesquisadora Elisangela Teixeira acrescenta que "vale ressaltar que já espera-se um falso negativo caso o exame seja realizado fora do período indicado. Aqueles que apresentarem quadros com sintomas leves - ou não apresentam nenhum sintoma - também podem ter um resultado negativado, pois não desenvolvem anticorpos detectáveis pelas metodologias disponíveis".
O uso de testes sorológicos, até o momento, é mais indicado para auxiliar a identificar quem que já teve contato com o vírus. Assim, o gestor de saúde pode, por exemplo, avaliar a população ou grupo de risco para adotar medidas de controle.
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