Primeira turma de paraquedismo comemora 45 anos de saltos em Novo Hamburgo

Numa época em que o Aeroclube de Novo Hamburgo era uma ilha num trecho do bairro ainda tomado por mato e banhados, alguns jovens deram início à pratica esportiva que ainda hoje dá cores ao céu de Canudos. Em janeiro de 1977, o grupo fez o primeiro salto de paraquedas, após curso com Elton Minuci, ex-integrante da Brigada de Paraquedista do Exército. Neste sábado, alguns deles se encontraram para comemorar os 45 anos deste momento que ficou na história. "Foi em janeiro, mas a gente não podia deixar passar o ano. Tinha que ser em 2022", justificou Edgar Fedrizzi Filho, um dos pioneiros.

O grupo se reuniu no mesmo local do primeiro salto. Alguns se arriscaram em saltos duplos. Fedrizzi foi o primeiro. "É como andar de bicicleta, a gente não esquece", brincou. E arrematou: "Foi uma volta no tempo, muito legal. Não dava para deixar fechar o ano", repetiu ele. "Medo agora é de voltar." Afinal, fazia 25 anos desde o último salto.

Apesar de ser do primeiro grupo, Fedrizzi só saltou um ano depois, quando completou 18. Como menor de idade, só podia praticar o esporte com autorização dos pais. Que não veio. "Todos os outros saltaram e eu fiquei no chão, chupando o dedo", brinca.

Germano Hauschild Neto reencontrou a turma. Ele, que tem 140 saltos registrados, entende que seu tempo de paraquedista passou. "O mais importante é que este grupo começou o que não existia em Novo Hamburgo e permanece até hoje. Essa é a nossa grande contribuição ao esporte", reconhece.

O grupo comenta, ainda, que o paraquedismo evoluiu porque o clube comprou a ideia. Tanto é que, no início, a equipe buscava equipamentos emprestados em Caxias do Sul para saltar. Mas, com a estrutura do aeroclube, os grupos de Caxias do Sul e Porto Alegre acabaram por escolher Novo Hamburgo para seus saltos.

Histórias

Um conceito é comum entre os precursores do paraquedismo em Novo Hamburgo: a precariedade do esporte na época. O equipamento que utilizaram era praticamente sucata militar. De positivo, o local escolhido para a prática do esporte. "Canudos era muito diferente, só tinha mato e banhado", recorda Alexandre Moraes.

Mesmo tendo estreado vários meses depois dos companheiros, Fedrizzi lembra do primeiro salto. "A primeira sensação que tive foi de um silêncio de vácuo, silêncio de morte, algo que nunca tinha sentido." Já em queda, fez os primeiros movimentos para um lado e, quando tentou para o outro, ficou com parte do equipamento na mão. Resultado: pouso num mato de maricá e muitos espinhos cravados no corpo. Um ano depois, literalmente empurrou a irmã Maria Cristina para o primeiro salto dela, aí com os pais assistido. "Eles viram que se tratava de um esporte seguro.

Alta tensão

O aposentado Marcos Lichtler reencontrou os amigos neste sábado. Ele interrompeu a prática do esporte no nono salto. O motivo: chocou-se contra rede de alta tensão que lhe rendeu queimaduras por todo o corpo, 13 dias de internação hospitalar e marcas irreversíveis. "Ganhei uma descarga de 22 mil volts", lembra ele, recebeu alta no dia 14 de outubro de 1978, data que completou 21 anos. "Foram mais seis meses até voltar a ter uma vida normal", recorda ele. Desde então não saltou mais, mas não perde o saudosismo.

Remontagem

Cinco dos primeiros paraquedistas de Novo Hamburgo se reuniram no Aeroclube em comemoração aos 45 anos do primeiro salto. E aproveitaram para remontar uma foto de 1981, quando participaram de uma competição em Bagé. Alexandre Moraes, Germano Hauschild Neto, Gilberto Ludwig, Fedrizzi e Lichtler mataram a saudade, mas trocaram o troféu por uma garrafa de espumante, afinal, eles têm motivo de sobra para comemorar e brindar.

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