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Notícias | Região Entrevista

'É preciso aperfeiçoar o SUS', defende presidente do Cremers

Presidente da entidade, Eduardo Neubarth Trindade afirma que é necessário maior atenção à saúde primária, prestada pelas UBSs

Por Adair Santos
Publicado em: 02.05.2020 às 08:00 Última atualização: 02.05.2020 às 10:08

Pandemia de Covid-19 deixou à mostra outras fragilidades do SUS Foto: Prefeitura de Manaus / Divulgação
Ótimo nos atendimentos de alta complexidade, mas frequentemente regular ou ruim na hora de resolver problemas corriqueiros da população, como uma gripe ou um braço quebrado, onde a demanda é muito maior. "O SUS estimula e prioriza muito as cirurgias cardíacas, os transplantes, que atendem a uma pequena parcela da população, enquanto deveria priorizar a atenção primária, com postos de saúde de qualidade e onde não faltem médicos para resolver 80%, 90% das demandas, encaminhando apenas o restante para estruturas secundárias ou terciárias", sugere o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade.

Por isso, defende ser necessário repensar o financiamento do SUS. "Hoje remuneram-se bem os procedimentos de alta complexidade e pagam-se mal os de baixa complexidade. Se os postos de saúde funcionassem de uma forma mais adequada, hospitais como o Municipal, de Novo Hamburgo, e o Centenário, de São Leopoldo, não estariam lotados", pondera.

Mas, apesar das deficiências, reforça a sua importância. "É o maior sistema público de saúde do mundo, pois é amplo, geral e irrestrito, porém é um sistema extremamente complexo e difícil de gerenciar, além de custar caro", define. A questão central, segundo Neubarth, é que nem sempre a saúde recebe a atenção que merece como ocorre agora, em tempos de pandemia. "Há alguns anos foram construídos vários estádios para sediar a Copa do Mundo, mas nenhum novo hospital", compara. Ele considera que o momento atual de pandemia pode contribuir caso o País consiga realizar o correto planejamento e o escalonamento dos leitos de UTI. "Apesar de a saúde ser municipalizada, há um comando central", lembra.

Nos casos em que as pessoas encontram filas nos hospitais, dificuldades em consultar com especialistas e receber medicamentos, entende que a crítica não é ao SUS como um todo, mas sim a falhas de gerenciamento. "Pois o SUS não é um modelo perfeito e pronto, certamente tem que ser aperfeiçoado. Entretanto, um modelo único e organizado é um modelo bom", salienta.

Filas e demora

Mas demoras podem ocorrer também em consultas particulares ou de convênios, lembra ele. "Imediatismo em saúde é quase impossível de acontecer, a não ser nos casos de trauma, risco eminente de morte. É normal haver uma demora", opina. "Nos EUA, somente os serviços de urgência e emergência são cobertos pelo sistema público. Cirurgias e acompanhamentos médicos regulares são privados. As pessoas lá têm acesso a tudo, desde que paguem. Não estou dizendo que o SUS é um sistema perfeito e pronto, como também não é gratuito, pois é pago com os impostos", acrescenta.

"É o melhor sistema do País", diz administrador

Com a experiência de quem administra desde 2013 o Hospital São Francisco de Assis, de Parobé, João Schmitt garante que o SUS é hoje o melhor sistema de saúde do País. "Todas as ações de prevenção e atendimento aos pacientes com coronavírus são realizadas pelo SUS. E, quando alguém se acidenta, na maioria das vezes é socorrido pelo Samu e levado a um hospital público. A diferença é que aqueles que têm condições financeiras e um bom plano de saúde poderão conseguir acomodações melhores. Então, todos podem criticar o SUS, mas não podemos exagerar nas críticas", avalia o diretor-administrativo.

Hospital São Francisco de Assis conta com respiradores Foto: Adair Santos/Adair Santos/GES-ESPECIAL

Segundo ele, a remuneração feita pelos planos particulares é melhor, mas acaba atuando apenas como um complemento. "Fala-se que a tabela do SUS está defasada, não é atualizada desde 2008, mas há complementos, incentivos criados pelos governos estadual e federal, além de prefeituras, que permitem fazer a gestão", explica. O grande problema da casa de saúde atualmente, salienta Schmitt, é o pagamento de dívidas passadas, acumuladas no período em que não tinha filantropia, e que consome R$ 250 mil por mês. Hoje, 100% dos atendimentos são feitos pelo SUS.

Referência para 5 cidades da região, o São Francisco realiza 500 internações por mês e 130 partos. Também é um centro bastante procurado para tratamentos de pele. A ampliação, um prédio de 5 mil metros quadrados, ainda demanda investimento de R$ 8 milhões para ser concluída e outros R$ 4 milhões em equipamentos", contabiliza.

Sem dinheiro para UTI

E em tempos de coronavírus, o grande anseio do hospital seria abrir 20 leitos de UTI, o que poderia ser viabilizado em 45 dias caso houvesse recursos. "Mas para isso, precisaríamos investir R$ 1,8 milhão, dinheiro que estamos tentando conseguir, mas não está fácil, pois Brasília está parada", lamenta. A boa notícia é que em maio será inaugurado o bloco cirúrgico que permitirá a realização de 1,2 mil cirurgias por mês.

Todos os dias, pessoas de diversas cidades buscam atendimento no São Francisco de Assis, como é o caso da funcionária pública Neiva Decol, 44, que foi encaminhada pela rede pública de saúde de sua cidade, Nova Hartz. O filho, Joaquim, 6, quebrou o braço enquanto brincava. "Fiquei muito satisfeita com o atendimento pelo SUS", observa.

Sistema britânico conta com mais investimento

O médico gaúcho Ricardo Petraco, 40, que está na Inglaterra desde 2006, atuando como consultor em cardiologia e professor do Imperial College de Londres, lembra que o sistema do Reino Unido é semelhante ao SUS por ser gratuito ao ponto de encontro do paciente. "Todos pagam impostos proporcionalmente ao salário, mas quando for necessário atendimento, ele é gratuito a quem residir na Inglaterra ou para qualquer pessoa em situações de emergência", revela.

Quanto às consultas, o primeiro atendimento é sempre feito pelo médico de família. Outra diferença diz respeito à valorização dos profissionais da saúde. "Os salários pagos estão entre os melhores do mundo. Ninguém fica rico, mas todos vivem bem", diz. Ele vê o SUS como o princípio de um sistema nobre, mas considera que deve haver mais investimentos em equipamentos, por exemplo. "O dinheiro que a Inglaterra põe no NHS é significativamente maior do que o Brasil aplica no SUS", compara.

 

Definição do melhor modelo

Neubarth entende que o País precisa definir qual será o melhor modelo para o futuro. Hoje há o SUS que é público e é gratuito e que é prestado por um hospital estatal, como o Conceição e o de Clínicas, da capital, e também há o SUS que é gratuito mas é prestado por um hospital privado, modelo utilizado pelas Santas Casas. "Mas atualmente o SUS está funcionando de forma adequada na medida do possível", constata. Sobre o atual momento da pandemia, considera crítico. "Mas a sociedade vai vencer esta guerra", conclui.

 

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