Primeiro foi o baque pela descoberta de um câncer no esôfago, em 2009. Dois meses depois, a comemoração pela cura, graças aos tratamentos realizados em Porto Alegre. Em 2015, um novo drama: mais um diagnóstico da doença, dessa vez no pulmão. Após novas doses de superação e outras cirurgias, venceu mais uma vez a batalha. Por esses motivos, a aposentada hamburguense Selenita da Silva, 61 anos, não tem dúvida em afirmar: "O SUS salvou duas vezes a minha vida."
Críticas à demora
O marido de Selenita, o aposentado Nirdo Pereira da Silva, 62, reforça a percepção da eficiência do SUS em muitos aspectos, mas critica a demora enfrentada de forma corriqueira no atendimento e triagem realizados pelas Unidades Básicas de Saúde. "Os atendimentos e exames deveriam ser mais rápidos. Eu estava aguardando há um ano para fazer, em Porto Alegre, uma ressonância na cabeça, mas quando chegou a vez de ser atendido ligaram dizendo que a máquina tinha quebrado. Isso já faz três meses", revela. Em nota, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre confirmou que ocorreu problema em um aparelho de ressonância magnética, já consertado, mas adianta ainda não haver previsão de normalização do atendimento dos exames não-urgentes. Os pacientes estão sendo comunicados sobre como proceder.
Uma das comodidades do SUS diz respeito às internações gratuitas em leitos de UTI. Alguém que precise pagar do próprio bolso terá que recorrer a algo que é praxe em hospitais particulares: um adiantamento de R$ 50 mil, já que não se sabe quantos dias vai durar a internação. As diárias em dois hospitais particulares consultados pela reportagem custam R$ 2,5 mil, em média, variando se forem infantil ou adulto.
Uma enorme vitória do povo brasileiro. É assim que o Bruno Lima Rocha, define o SUS. "O atendimento de saúde pública, gratuita e universal, é uma conquista concretizada na Constituição de 1988 e tem como origem a reivindicação das pastorais sociais, a tradição de medicina social e sanitária brasileira, além da luta de médicas e médicos residentes a partir do último governo da ditadura com Figueiredo. O sistema e as políticas de saúde são bem montados e passam por um bom nível de controle social", pondera.
Bruno Lima Rocha, cientista político e professor nos cursos de Relações Internacionais e Jornalismo da Unisinos
"O que se vê de conflito interno é a presença de secretários municipais e estaduais da saúde, além de autoridades do Ministério da Saúde, de vários governos de turno, que não têm vocação nem identidade com o serviço público e fazem desses postos e cargos um trampolim carreirista. Isso sim prejudica, além do corte de verbas", acrescenta.
As críticas feitas pela população, na sua ótica, ocorrem porque os recursos não chegam. "E se há problema de gestão, esse é secundário, é um bode expiatório no argumento contra o SUS. Outro problema é que o sistema não dá conta de tudo porque a tributação no Brasil não incide sobre a riqueza e sim sobre o salário e o consumo. Temos a ideia da excelência de mercado e aí parece que um status no Brasil é ter plano de saúde e não toda a sociedade ter direito a uma carteira nacional de saúde", adverte.