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Notícias | Região Crime em família

Com frieza, viúva de bombeiro assassinado se diz inocente

Conforme delegado, a indiciada, que aguarda vaga no sistema prisional, não demonstrou sentimento em relação ao crime nem ao filho, que confessou e está preso há duas semanas

Por Silvio Milani
Publicado em: 10.11.2020 às 22:05 Última atualização: 11.11.2020 às 18:54

A viúva agiu com a frieza do filho ao falar sobre a morte do bombeiro militar Glaiton da Silva Contreira, 52 anos. Algemada no carro da Polícia, no trajeto de Viamão a Sapiranga, por volta das 16 horas de segunda-feira, disse que estava dormindo quando o marido foi assassinado, na tarde de 25 de outubro, um domingo, e que não sabe de nada. Também não expressou sentimento em relação ao primogênito, Yago Rudinei da Silva Machado, 25, que a deixou fora do crime quando confessou o homicídio do padrasto. Na Delegacia de Sapiranga, com a mesma apatia, Ledamaris da Silva Contreira, 42, usou do direito de só falar em juízo. Nem queria assinar os documentos. Até a noite desta terça, estava na Central de Polícia de Novo Hamburgo à espera de vaga no sistema prisional.

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Encontrada na casa de parentes em Viamão e comunicada sobre o mandado de prisão preventiva, a viúva entrou na viatura com três policiais civis e começou a falar. Em razão de um derrame que deixou sequelas, tem dificuldade para se expressar, mas entende tudo. "Ela manteve o que disse no depoimento. Negou envolvimento, de forma confusa", declara o delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco. E foi ainda mais distante, quase indiferente, em relação ao filho. "Ela não defende, nem acusa o Yago. Também não reprova o que ele fez. Diz que não sabia onde ele estava nem o que estava fazendo. Não demonstrou emoção sobre o fato e o filho."

Conflito

Na hora do interrogatório, quando decidiu se manter em silêncio, só assinou os documentos por insistência da própria advogada, Roberta Klein Knewitz. "Apenas acompanhei os atos da prisão. Por também ter acompanhado o flagrante do filho, não poderia assumir a defesa, por questões éticas, em razão de possível colidência de defesa", observa a advogada. Até a tarde de ontem, Ledamaris não tinha constituído defesa. Já a defesa de Yago, contratada pelo pai biológico dele, não foi encontrada ontem.

Refúgio não deu certo 

Depois do enterro do marido em Rio Grande, no dia 28, onde recebeu pêsames de familiares, amigos e colegas de trabalho da vítima, Ledamaris voltou à casa da família, no bairro São Luiz, em Sapiranga. Juntou roupas e foi para o sítio em área rural de Viamão. Levou o filho mais novo, de 10 anos, que teve com o tenente. A ideia era um refúgio distante dos fatos, no abrigo de parentes. Durante a hospedagem, conforme a Polícia, ela acabou contando participação no homicídio. Não esperava que familiares a delatassem. "A própria mãe a entregou", conta o delegado, que já tinha juntado várias provas, como contradições nos depoimentos e conversas da viúva com Yago ao telefone na tarde do crime.

Vida em família com ações sociais

Yago em foto com a mãe em ação social e dissimulando preocupação com o desaparecimento do padrasto Foto: Reprodução

Comandante do Corpo de Bombeiros de Montenegro e Taquari, o tenente Contreira era conhecido pela dedicação ao trabalho. Já tinha comandado Taquara e Sapiranga, onde morava com Ledamaris e o filho do casal. Yago morava sozinho. A esposa e o enteado eram engajados em causas sociais, como festas beneficentes onde se fantasiavam para alegrar crianças carentes e com deficiência. Nas sociais, Yago postava fotos da família em passeios. Quando o padrasto foi dado como desaparecido, na tarde de 26 de outubro, publicou apelos nas redes sociais por informações. "Gente, esse é meu pai, Glaiton Contreira, sumido desde ontem", escreveu sobre uma foto abraçado no tenente fardado.

Mas a realidade, conforme apurado nas investigações, era outra. Mãe e filho teriam articulado a morte do bombeiro por causa dos bens da vítima, como a casa da família no bairro São Luiz. "É o principal motivo, mas há também um componente passional, pois o militar estava se separando dela, tanto que já mantinha relacionamento com outra mulher, em Nova Hartz", observa o delegado. Ledamaris e Yago devem ir a júri.

O crime, segundo a Polícia

Yago e o padrasto. Foto: Reprodução

Por volta das 16 horas de 25 de outubro, Ledamaris passa a trocar mensagens com Yago e pede desesperadamente para ele ir à casa dela. "Vem, vem, vem", insiste. Ela também envia informações sobre a mulher com quem o marido se relacionava. A Polícia suspeita que o tenente, que tinha ido deitar há uma hora após caminhada, havia sido sedado pela esposa.

Yago vai. "Ela colocou o guri (filho mais novo) na rua para brincar, o Yago botou o carro de ré na garagem e fecharam a portão, o que nunca faziam. Cerca de 15 minutos depois, o carro saiu e quase bateu no muro. Ela foi correndo varrer a garagem, sinal de que o tenente pode ter caído no momento em que foi colocado no veículo", relata o delegado.

No dia seguinte, colegas de trabalho estranham que Contreira não foi trabalhar. A ocorrência do desaparecimento é feita no fim da tarde de 26 de outubro. Por volta das 19 horas, o cadáver é localizado. Estava com corte profundo no lado esquerdo do pescoço, no fim da Rua Travessão Campo Bom, em área onde se extrai areia para construção, quase no limite com Campo Bom. Estava na lateral da rua, de barriga para cima e braços abertos.

Com frieza, Yago confessa. Diz que agiu sozinho. No celular dele, os policiais encontram pesquisas na Internet sobre como esfaquear uma pessoa e ocultar o crime. Na mesma noite, o enteado foi conduzido à carceragem do Batalhão de Polícia do Exército, em Porto Alegre. Soldado afastado do 19º Bimtz de São Leopoldo, trabalhava no setor de enfermagem do Hospital de Sapiranga, onde teria desviado éter e medicamentos para dopar o padrasto.

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