Preocupação é a palavra da vez para os prefeitos recém-empossados na região. Passadas as festas de final de ano, a atenção dos gestores se volta para os reflexos do descumprimento de normas sanitárias de prevenção à Covid-19 visto nas últimas semanas.
Questões como a estimativa de novo aumento de casos, óbitos, internações e superlotações de leitos em decorrência da doença fazem parte da pauta prioritária das administrações municipais, que começam a traçar estratégias para o enfrentamento à pandemia em 2021.
Anseio compartilhado
Nas cidades dos vales do Sinos e Paranhana, o anseio é compartilhado. Em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), ainda que a ocupação tenha apresentado melhora de 7% na região de Novo Hamburgo no distanciamento controlado, comparando os 82,9% da manhã de ontem com a semana anterior, os olhares estão voltados para daqui em diante.
"Vamos avaliar dia a dia o aumento de casos. Por enquanto está sob controle, mas estamos preocupados com a virada do ano. Vamos acompanhar se esse viés de alta vai se confirmar até o final desta semana e metade da próxima", explica o presidente da Associação de Municípios do Vale do Rio dos Sinos e prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi.
Segundo Orsi, a apreensão existe porque desde o início da pandemia os esforços foram realizados no sentido de evitar aglomerações e controlar o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) - medidas que sofreram relaxamento por parte da população. "O objetivo sempre foi evitar o aumento excessivo da curva de contágio. E, no momento, temos fatores ou atores que geram uma aglomeração maior, com mais circulação de pessoas, o que facilita a transmissão da doença", acrescenta.
No Paranhana
Já na região de Taquara, houve um incremento de quase 5% na ocupação das UTIs em relação à última segunda-feira de 2020, com 69% da capacidade utilizada na manhã de ontem. O presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio Paranhana (Ampara) e prefeito de Parobé, Diego Picucha, frisa que os indicadores estão em constante análise para definir os próximos passos do enfrentamento à doença.
Na cidade, o acompanhamento se dá por meio do comitê de especialistas, que assessora nas tomadas de decisão sobre a prevenção da Covid-19. "Pretendemos prosseguir o trabalho de enfrentamento da pandemia com conscientização e prevenção, o que já estamos desenvolvendo desde o início da nossa gestão, seguindo de forma a conciliar saúde e economia. Sabemos que as duas são fundamentais para o bem-estar de nossa comunidade", define Picucha.
Mesma receita no Sinos
Da mesma forma, Orsi continua apostando na receita utilizada até então para frear o avanço do novo coronavírus. "A Amvars se posiciona de maneira a trabalhar na consciência individual e coletiva. Todas as pessoas já sabem o risco da Covid e estamos pedindo para o pessoal evitar se aglomerar, mantendo os vínculos dentro da família", pontua.
Além disso, a região deve manter o olhar atento às regras estabelecidas por decretos. Orsi diz que não foram pedidas flexibilizações adicionais ao Estado, para ter um rigor maior. Segundo ele, segue a aposta na preservação da atividade produtiva e maior restrição de atividades de lazer, esportes e eventos.
Para outros prefeitos das maiores cidades da região, sobretudo as que contam com hospitais que dispõem de UTIs, a apreensão é latente. "Temos uma grande preocupação, porque entendemos que tudo isso vai se refletir daqui a 10, 15 dias. Fizemos uma reunião entre prefeitos dos municípios da região metropolitana, como Canoas, Esteio e Porto Alegre, em função do pico maior de contaminação e pensando na vacinação", detalha a chefe do Executivo hamburguense, Fatima Daudt. Amanhã pela manhã, os temas serão levados para reunião com o governador Eduardo Leite.
A prefeita eleita de Taquara, Sirlei Silveira, também destaca a receio pelo que está por vir. "Nos preocupam os resultados das festas de final de ano, que devem aparecer nos próximos dias com o aumento de infectados", diz.
Para minimizar os danos, Sirlei defende novas medidas, como certificar os lojistas que seguem os protocolos, intensificação da fiscalização e mudança de endereço do Centro Covid. "Atualmente ele está em um prédio alugado, sem ar-condicionado ou banheiro para os pacientes", detalha. O futuro endereço tem climatização para os profissionais, banheiros para os pacientes e espaço arejado.
Até o momento, a Amvars frisa que não trabalha com a perspectiva de colapso nos serviços de saúde. "A princípio, acredito que os atendimentos não vão superar a capacidade instalada. Se trabalhou bastante com ampliação e ainda há movimentação. Não acredito que a gente vá chegar a esse ponto, mas estamos aguardando para ver o que vai acontecer", afirma Orsi. As últimas vezes que a região atingiu a ocupação máxima de UTIs foram nos dias 21, 23 e 24/12.
Para o infectologista Fernando Lipp, as próximas semanas serão de aumento de casos. "Considerando o comportamento da população nos últimos meses, associado ao momento de festas de final de ano, que tradicionalmente são eventos aglutinadores", explica, lembrando que o reflexo não é tão rápido. "Há o tempo para os períodos de incubação do final do ano começarem a terminar e iniciarem os períodos sintomáticos", resume.
Ele aposta em ações mais duras. "Minha opinião pessoal, não respaldada por nenhuma entidade pública ou privada: após quase um ano de pandemia declarada, focar na educação da população como medida principal para reduzir a disseminação é desperdício de tempo e dinheiro. Chegou o momento de intensificar medidas punitivas para atingir tal fim", pondera, lembrando que o bolso costuma ser o mais sensível.
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