Uma professora* foi afastada após supostamente bater com um livro em seu aluno* do 3º ano do ensino fundamental. A agressão teria acontecido na quinta-feira (17) da semana passada em uma escola estadual de Parobé, no Vale do Paranhana.
Uma sindicância foi instaurada para apurar o caso e nos próximos dias colegas do aluno agredido serão ouvidos, acompanhados dos pais.
O caso também foi registrado pela família do aluno na Polícia Civil. Conforme o delegado Gustavo Menegazzo Rocha, titular da DP de Parobé, na segunda-feira (21) foi instaurado o precedimento de investigação e a professora deverá prestar depoimento na próxima semana.
De acordo com a 2ª CRE, não há prazo para a duração do afastamento da professora.
Entenda o caso
Segundo a mãe do estudante de 8 anos, no dia em que a agressão teria acontecido a escola mandou mensagem chamando ela para conversar com a professora no dia seguinte, porém o motivo da reunião não havia sido informado. Quando os filhos chegaram em casa, ela questionou se algo tinha acontecido. A filha de 15 anos, que estuda na mesma escola, e o caçula disseram que não, mas a mãe notou que os “os olhos do filho menor estavam vermelhos”.
“Fala para a mãe o que aconteceu, filho. Alguma coisa vocês fizeram, não vão me contar? Ele reforçou que ‘nada mãe’”, conta. Ela, então, mostrou a tela do celular com a mensagem da escola e ele fez o relato. “Ele botou a mão na cabeça e disse: ‘eu terminei o meu tema e fui brincar no chão com os meus colegas que tinham terminado também. Aí vi a colega* mexendo em um livro e fui ver se era no meu. Pedi licença e ela não me deu, ela debochou de mim e eu bati com o livro nela. Nisso a 'profe' veio e me deu uma livrada também, só que me defendi na primeira e aí torci o pé, caí no chão e la continuou me batendo no chão, mãe”, detalha. O jovem disse ainda que os colegas ficaram rindo da situação enquanto a professora seguia com as agressões.
Na ata registrada na escola, a professora reafirma a versão apresentada em seu depoimento à 2ª CRE, de que bateu uma única vez com o livro no aluno e não diversas vezes. Além disso, ela alega que o estudante “é inquieto na sala e tem perturbado o andamento das aulas”. Ela relata que ele também tem dificuldades na aprendizagem e que já teria chamado os pais para conversar sobre isso. Em relação ao acontecido, ela reconhece que “excedeu-se na cobrança com o aluno”.
Procurada pela reportagem, a direção da escola se limitou a dizer que o caso já havia sido repassado a 2ª CRE. A mãe do estudante decidiu tirá-lo de imediato do educandário, mesmo antes de saber que a professora seria afastada, pois a escola possui apenas uma turma de 3º ano e o menino não queria mais voltar.
“Eu estou destruída. Não consigo olhar para o meu filho sem chorar. Pensei que eu não estava lá para defender ele ou até mesmo ajudar ele a levantar do chão. Um misto de sentimento que eu não sei explicar”, desabafa a mãe do estudante.
Mesmo antes de acontecer o caso de agressão com livro, outras crianças da turma já relatavam aos pais episódios de agressividade por parte da professora. A designer de sobrancelha e micropigmentadora*, conta que o seu filho* de 8 anos, que era aluno da mesma educadora, há cerca de duas semanas narrou que ela o “pegou pelo braço que até ergueu do chão”.
“Nesse momento, pra mim tinha sido um fato isolado”, conta essa outra mãe. Segundo ela, o fato teria acontecido porque o filho tinha ido desenhar no quadro, motivo esse que fez a professora chamá-la na escola. “Pensei que tinha sido algo tipo ‘volta para o teu lugar’”, completa. Na semana seguinte o filho teria relato que “a professora pegou um colega e socou em cima da cadeira. Ele me mostrou como ela fez, pegou pelos bracinhos e colocou em cima da cadeira”, conta.
A designer conta que estranhou a conduta da professora e orientou ao filho a contar para ela se algo similar voltasse a acontecer. No dia da agressão com o livro, ela conta que assim que chegou da escola o filho disse: “mãe, a professora bateu com o livro na cabeça do colega*”. Ele contou que a criança envolvida no episódio chegou a chorar. “Eu falei com outra mãe e, então, ela falou com o filho também, e ele contou a mesma história”. Na sexta-feira (18), quando o estudante agredido não foi a aula, o filho dela disse que o colega faltou porque havia se machucado.
“Esse fato que aconteceu da agressão com o livro não é caso isolado, pois já vinham acontecendo agressões. Até já tinha ido duas mães na escola porque os coleguinhas choravam e não queriam mais ir na aula”, revela a mãe do colega do aluno que foi agredido com o livro.
Em um grupo dos pais dos estudantes da turma do 3º ano, uma outra mãe revelou que o filho está fazendo acompanhamento psicológico porque não queria mais ir à escola. ”Estou tento que fazer acompanhamento psicológico com meu filho há dias, com trauma de ir para a escola. E nós sem entendermos o por que, minha família sofrendo em ver meu filho com medo, de chegar a entrar em pânico. E era tudo por isso que vinha acontecendo em sala de aula”, escreveu.
A Coordenadora 2ª CRE, disse que ainda não tem conhecimento sobre esses outros casos, mas com a sindicância e depoimento dos estudantes e dos pais, haverá apuração. “Jamais vamos nos calar diante de casos assim. Não pode acontecer agressões sob qualquer justificativa, é inadmissível. Sempre estaremos em prol do aluno, pelo seu bem-estar e aprendizado”, afirma Ileane.
Ela ainda salienta que a Coordenadoria realiza treinamento com diretores para que repassem aos professores questões de acolhimento ao estudante, especialmente com o retorno as atividades presencias após o afastamento por conta da pandemia. Ileane reforça que outras atividades serão ofertadas aos profissionais de educação, visando prestar apoio aos educadores e orientá-los para que a relação com os alunos seja a melhor possível.
A reportagem fez contato com a professora envolvida no caso, mas ela preferiu não se manifestar e disse que quer "esquecer o ocorrido".
* O Jornal NH não divulga o nome dos envolvidos para proteger a integridade das crianças, conforme determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).