Concessionária diz que inspecionou trecho da RS-122 horas antes do acidente que matou trio de músicos
Pai dos irmãos Lorenzo e Pietro e motoristas que usam a rodovia falam sobre o perigo dela
A segunda-feira (10), dois dias após o trágico acidente que vitimou os irmãos Lorenzo e Pietro Dessoti, e a namorada de Pietro, Daniele Schwab, foi de obras no km 38,5 da ERS-122, em São Vendelino.
Funcionários da Concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), empresa responsável pela rodovia, construíram um novo bueiro para escoamento da água, que havia sido obstruído após uma queda de barreira no mês de junho. O Peugeot 206 onde os jovens com idades de 21 e 22 anos, estavam teria aquaplanado na água acumulada na pista, antes de atravessar a pista e colidir em um caminhão que vinha no sentido contrário.
Em nota, a CSG, afirmou que lamenta e se solidariza com a família, e que equipes de manutenção e tráfego estiveram no local cerca de três horas antes do acidente, e que naquele momento não havia nenhum acúmulo de água.
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“No horário [três horas antes do acidente], todo o sistema de drenagem do local estava funcionando normalmente. O monitoramento faz parte da rotina de operações da companhia, 24 horas por dia. Até o horário do acidente, a empresa não registrou nenhuma ocorrência de condutores que trafegavam pelo local”, diz o documento. No entanto, imagens de uma câmera localizada em um estabelecimento em frente ao trecho do acidente, mostram o veículo perdendo o controle após passar pela pista alagada. A própria companhia informou que drenou a água da pista após o acidente.
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No mesmo documento, emitido nesta segunda, é dito que desde o sábado (8), “uma viatura está posicionada no local para monitoramento”. Porém, quando a reportagem esteve no local, entre 16 e 17 horas desta segunda, não havia viatura, apenas os operários trabalhando no bueiro.
Pai dos irmãos falam sobre o perigo da rodovia
Os pais dos músicos Lorenzo e Pietro, Nina e Davi Dessotti, se apegam às boas lembranças após a perda dos filhos. "Sempre foi só alegria a presença deles nas nossas vidas. Desde crianças até o último dia", relembra o maestro de Bom Princípio. Ele também destaca que a nora era “uma menina de ouro, amada, trabalhadora, que adorava trabalhar com crianças”.
Davi defende que há descuido na rodovia: "Considero que ali existe sim um descuido no cuidado porque a nossa ERS-122 é uma via que traz muito movimento da região metropolitana para a Serra e, com isso, os cuidados têm que ser redobrados sempre”. O pai afirma que o nível da água estava muito alto. “A água não estava suja, porque como houve queda de barreira e trancou o bueiro, a água veio limpa para cima do asfalto". Dessa forma, diz que é possível que o filho não tenha visto o que havia lama embaixo da água.
Motoristas revelam preocupação
Os caminhoneiros Tiago Laguna, 38 anos, e Luis Fernando de Araújo, 40, concordam que a ERS-122 é uma estrada muito perigosa, principalmente daquele ponto em diante, em direção à Serra.
“São muitas curvas, pista não duplicada e neblina. O acidente teve outra causa, mas mostra que a 122 precisa de mais manutenção, pois muitos caminhões passam por aqui", relata Tiago.
Os motoristas Felipe Moraes, Leandro Silva e Ronildo Ubatuba também revelam preocupação. “Eu trafego por aqui há mais de 30 anos e já vi muito acidente, e geralmente quando envolve caminhão, eles são fatais", conta Ronildo, de 55 anos.
Comunidade em choque
O trio se deslocava de Bom Princípio à São Vendelino, onde naquela noite fariam uma apresentação com a orquestra WBK, no lançamento da Kerbfest. O morador Carlos Mendes, de 55 anos, do pequeno município de pouco mais de 2 mil habitantes, diz que toda a comunidade ficou chocada, e que ele mesmo ainda está impressionado com as imagens que viu.
“Aqui é uma cidade muito pequena e tranquila, a gente pode dormir de porta aberta, então quando acontece algo assim, mexe com todo mundo”, afirma. Ele voltava pra casa e viu os destroços da tragédia. “Foi muito violento, o carro estava em pedaços, partido em vários pedaços. Muita gente tentava ajudar, levaram a menina pro hospital, mas ela não resistiu”, lamenta.
O agricultor Adelar Kirch, de 71 anos, também morador de São Vendelino, também se solidarizou. “Eles viriam se apresentar aqui no pavilhão à noite, e aconteceu isso pela manhã. É muito triste”, comenta.