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Lições que precisamos aprender com o clima

Apesar de todos alertas meteorológicos e algumas medidas de sobreaviso, muitas cidades foram pegas de "surpresa" com o caos desta madrugada de sexta-feira. Então, o que dá para se fazer e evitar que o caos anunciado se instale?

Publicado em: 16.06.2023 às 17:35 Última atualização: 16.06.2023 às 18:22

Há algumas semanas a meteorologia já vinha alertando para a força da chegada do El Niño (fenômeno climático que traz enxurradas periodicamente ao nosso Sul), já prevendo meses de muitas chuvas. E, nesta semana, os alertas sobre o clima (frente fria com ventania e volumes de chuva acima do normal) foram muitos desde o início da semana, sendo que na quarta e quinta-feira a situação atingiu o chamado alerta vermelho.

Muitas prefeituras colocaram suas equipes de Defesa Civil e Assistência Social de sobreaviso, mas ninguém estava preparado para a pancada desta noite de quinta para a madrugada de sexta-feira. A partir das dez da noite da quinta-feira, a chuva e a ventania que já castigavam o litoral norte se avolumaram na região metropolitana, gerando uma onda de estragos e inundações. Rios e arroios se elevaram rapidamente, e nas próprias ruas os sistemas de escoamento de água não davam conta do aguaceiro que caía.

Sem dúvida, não há como um município estar preparado para suportar um volume de chuvas tão expressivo em menos de 24 horas - em várias cidades se diz que em um século nunca houve uma precipitação tão volumosa em tão poucas horas.

 As médias de 150, 200 e até 300 milímetros de chuva registrados de quinta para sexta-feira são muito acima da média histórica de todo o mês de junho, que fica, segundo dados de institutos meteorológicos, entre 120 e 150mm na maioria das cidades gaúchas. Ou seja, não há como um sistema de drenagem suportar a chuva de um mês todo em um período de menos de um dia.    

Mas, sem querer eleger culpados, é hora de buscamos algo além de remediar o caos.

E isso desde ações mais localizadas e imediatas, como melhora de sistemas de drenagem conforme o crescimento da urbanização (principalmente com a construção de casas, prédios e pavimentações) e ocupação populacional, até medidas globais de contenção de emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem que estão acentuando as condições para desastres ambientais como secas prolongadas e ondas de calor extremo e incêndios florestais ou tempestades com inundações catastróficas, como a que nesta sexta-feira vivemos - em uma proporção ainda não tão trágica como poderá ser no futuro se não agirmos agora.

Ações a curto prazo

No rol das ações imediatas é preciso que as cidades e Estado construam sistemas de prevenção mais abrangentes, que vão desde redes pluviais mais eficazes e condizentes com a questão urbana a fiscalizações de residências construídas em locais alagadiços e impróprios como encostas.


Problema regional: enchentes são comuns na Bacia do Sinos
Problema regional: enchentes são comuns na Bacia do Sinos Foto: Arquivo/GES

Além disso, é preciso ser preventivo em fiscalizações de estruturas de muros e barreiras de contenção, pontes, postes e árvores que possam oferecer risco. Na questão das árvores até que há algum monitoramento em algumas cidades, mas na maioria dos casos de queda a árvore já oferecia risco por ter se tornado gigante (e não ter poda preventiva) ou estar comprometida por estar podre ou outro problema estrutural (algo comum em postes de madeira).

Esta chuva intensa deve ter tornado vários terrenos mais instáveis e propensos a desabamentos. Por isso, é preciso que as autoridades fiscalizem estes locais que estão encharcados. E é preciso que a população colabore apontando possíveis áreas de barrancos que apresentem algum tipo de desestruturação.

Enfim é urgente ficar alerta para que desastres trágicos não aconteçam. E não dá para se apostar que isso possa ou não acontecer. É vital agir antes que o pior aconteça. Até porque deve vir mais chuva nos próximos dias após a pausa na chuvarada desta sexta-feira.   

Não podemos sempre deixar a cobrança da fiscalização para quando a tragédia acontece, como agora. Ela deve ser uma rotina nas ações governamentais.

 

Futuro

A segunda questão, que envolve controle dos gases gerados por veículo, indústrias e queimada, principalmente, é a médio e longo prazo, mas já está totalmente atrasada em suas medidas. Governantes se reúnem periodicamente para agendar ações, mas elas vão sendo adiadas em nome do "desenvolvimento econômico", que é necessário, é lógico, mas que já há décadas se coloca acima do bem estar social em nome da avareza.


Efeito estufa
Efeito estufa Foto: Divulgação

O crescimento desenfreado populacional, assim como o fluxo de tráfego de veículos, precisam ser melhor planejados. Não basta construir mais casas e mais rodovias. É preciso criar um conjunto de medidas que tornem estas demandas possíveis sem agressão ao meio ambiente e com segurança às pessoas. Mas, como disse, este é um planejamento de médio e longo prazo que só surtirá efeitos nas próximas décadas, já que hoje vivemos a falta de ações em décadas passadas.

Para se ter uma ideia, o chamado efeito estufa, que hoje é tão falado (leia-se "hoje" como nos últimos 30 anos), já teve iniciada a discussão há mais de 100 anos. E de lá para cá, em meio a achismos e contraditórias opiniões que se colocam no time do "não é bem assim " ou, pior, no time de que "isso é bobagem porque sempre foi assim", pouco foi feito globalmente.   

É fato de que um planeta mais povoado e com mais indústrias e veículos emita mais gases de efeito estufa. E isso influi na atmosfera e, por consequência, no clima. Fácil de entender. Mas, insistimos em deixar para depois, apesar de já estarmos vivendo as consequências desta nossa inoperância.

No site da MetSul, um artigo fala sobre os fenômenos El Niño e El Niña, que vêm se acentuando nas últimas décadas. Não coincidentemente em paralelo com o crescimento das indústrias, da urbanização e do volume de veículos. Ou seja, não é papo-furado de ativista antiprogresso a questão do aquecimento global. O progresso é necessário, mas com responsabilidade com a vida de todos.

Se não tomarmos atitudes agora, nosso futuro será bem mais caótico que esta sexta-feira de assombro com o clima.


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