Eticamente talentoso

Campo Bom contribui hoje decididamente com a literatura nacional. Não bastasse o brilhante executivo de calçados, Flavio Ghilardi, desabrochar num sentimental e premiado poeta, meu conterrâneo Luís de Lima escreve uma parcela de sua rica autobiografia em um livro que aguarda ardentemente sua continuação.

Lima não caiu de paraquedas na literatura. Embora tenha uma vida dedicada ao paraquedismo militar, seu envolvimento com os livros é genético. Manuel Fernandes de Lima plantou sua dinâmica criativa no pensar do Éti. Adler, o paraquedista, mostra traços de alta qualidade estilística no quesito que julgo ser o mais importante em um livro: prender o leitor. O artifício é a saga de um corajoso hamburguense que deixou para trás a monotônica estabilidade de que desfrutava, para se jogar em um Rio de Janeiro que respira fardas camufladas, e joga seus trainees a PQD de uma altura absolutamente insana para temperamentos conservadoramente urbanos como o meu.

Em Adler, o nosso Éti (apenas para os íntimos) mostra que qualquer pessoa pode se despregar da sua zona de conforto para realizar aquele sonho que faz seus olhos brilharem e os pelos do braço arrepiarem. Mas não é só na carreira militar que o escritor escondido se revela desafiador. O namoro quase juvenil contado a conta-gotas, lembra em intensidade o clima de suspense que sustenta a conquista do ser amado no livro "O crime do padre Amaro", de Eça de Queiroz.

A estreia de Lima aconteceu há dez anos e sonegar aos leitores a sequência de Adler configura, sim, crime contra a curiosidade popular. Além de toda a narrativa atraente, Adler ou Éti desenvolve com destreza o raciocínio de que não precisamos pisar nos outros para construir nossos degraus.

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