Ensinar a desobedecer

De vez em quando, a gente se defronta com algumas coisas que surpreendem como, por exemplo, ensinar a desobediência. O assunto foi objeto de reflexão do psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, cuja tese sustenta que, até bem pouco tempo, se vivia ordem social firmada na hierarquia e na autoridade em que todos fomos educados. Todos, digo, da minha idade. Segundo Lebrun estaríamos vivendo hoje a evolução natural deste processo, cujas raízes remontam a tempos imemoriais, quando a autoridade era indiscutível, mas que começou a ser questionada.

Como se trata de leitura dos novos tempos, é sempre temerário firmar juízos de valor, mas a verdade é que constatamos ausência dos elementares princípios que emolduram o pretérito da humanidade, até nos defrontarmos com o mundo de hoje em que os pais se submetem à vontade da piazada.

Creio que o processo educativo - em que cada sujeito se educa com os outros - deve coibir abusos, seja de que natureza for, partindo da obediência às boas normas sociais, desde o convívio familiar até se estender à grande sociedade. A vida, porém, nos confronta com situações em que é preciso ousar, e até exercitar sadia "desobediência" contra o que está instalado. Vou mais longe: ensinar só a obediência, sem discutir os parâmetros, é correr o risco de criar filhos para um mundo que já não existe. Questionar normas e procedimentos não pode, porém, transformar-se em falta de respeito, porque aí estaríamos na contramão do processo de evolução.

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