"Não conheço e nunca vi", diz comerciante que teria feito a última reunião com empresário de Minas Gerais desaparecido

Enquanto seguem as buscas ao empresário de Minas Gerais Samuel Eberth de Melo, 41 anos, o caso que começou em Novo Hamburgo e teria terminado no litoral gaúcho ganha contornos cada vez mais nebulosos. Apontado como o comerciante que recebeu a vítima para a última reunião de negócios antes do desaparecimento, na sexta-feira da semana passada, um vendedor de carros de Santo Antônio da Patrulha nega qualquer contato com Samuel. "Não conheço e nunca vi", declarou à reportagem.

O mineiro falou a parentes que havia ficado na revenda da área central de Santo Antônio das 8 horas às 10h30, no dia 2 deste mês. Foi uma das últimas conversas, por telefone, com familiares e amigos de Belo Horizonte. Conforme relatou, estava junto o parceiro comercial de Novo Hamburgo de quem a vítima cobrava dívida de R$ 1,3 milhão em veículos. Samuel mencionou até o nome da loja e passou dois números de telefone celular do dono.

Negócios

"Deus do Céu. Vendo carros, mas fechei essa revenda em fevereiro", sustenta o comerciante do litoral. Ele admite, no entanto, que mantinha negócios com o sócio hamburguense do empresário mineiro - um morador do bairro Canudos de 30 anos preso na terça-feira (6) como principal suspeito do desaparecimento.

"Mas nunca falei com esse rapaz de Minas Gerais. Nem estava em Santo Antônio naquele dia." Apesar da menção na ocorrência do desaparecimento, o comerciante garante que sequer foi procurado pela Polícia.

"Esse cara me causou prejuízo de R$ 170 mil"

Por que sua revenda e seus telefones estão na ocorrência do desaparecimento?

Comerciante - A Polícia correu atrás de um monte de gente e não entrou em contato comigo. Graças a Deus não tenho nada a ver com isso. Naquela manhã, eu tinha levado meu piá e meu sogro ao hospital para fazer exames. O desaparecido eu nem conheço. Já esse cara de Novo Hamburgo me causou um prejuízo de R$ 170 mil. Nem tenho mais revenda. Fechei em fevereiro, mas tenho carro para vender. Não sei como fui ser envolvido nessa ocorrência. Podem ter entrado numa revenda qualquer aqui em Santo Antônio e dito que era comigo. Estou em uma crise nervosa.

Como e quando conheceu o vendedor de Novo Hamburgo?

Comerciante - Consegui o número dele por indicação. É um repassador. Perguntei se tinha preço bom, disse que sim, e começamos a negociar há mais ou menos um ano. Comprava dele e vendia. Como vou adivinhar que havia algo errado? Como no início deu certo, tirei dinheiro do banco pra comprar esses carros e agora ele me faz isso. Não me entregou os veículos nem devolveu o dinheiro. Brigamos há duas semanas porque ficou me devendo.

Sabia que ele pegava carros desse empresário de Belo Horizonte?

Comerciante - Ele trazia de vários lugares, de carreta, mas não sei especificamente de onde. Soube que até quebrou uma loja em São Paulo. Ele é repassador. Eu faço a venda final. Mas acho que não vou mais, porque me envolveram nisso. É tanta preocupação que nem sei o que dizer. Não devo nada para ninguém. Só saí lesado. Não sei o que faço.

Ele é bom vendedor?

Comerciante - Se encostar a mão no teu ombro, te convence. É muito "labiento". Gente fina, ninja em vendas. Tanto que conseguia vender para tudo que é parte, pelas margens de preços e pela trova. Arrumei dinheiro na frente para ele, antecipei, e perdi.

O que você sabe do caso do desaparecimento?

Comerciante - Estou sabendo da confusão. A mulher dele [empresário mineiro] me ligou na sexta de noite [dia 2] e perguntou: "Tu passou o dia com Samuel?". Perguntei "quem é Samuel?". Disse a ela que não conheço ninguém de Minas. Daí ela perguntou se conheço o [nome do hamburguense suspeito] e se sabia onde ele estava. Respondi que o conhecia, mas que não sabia onde mora.

O que acha que aconteceu?

Comerciante - Alguma coisa aconteceu, se não apareceu nesses dias.

Parceria fatal

Os últimos passos do mineiro foram narrados por familiares conforme os relatos da vítima. Melo chegou a Novo Hamburgo no último dia 31 e se hospedou em hotel no bairro Hamburgo Velho. A viagem foi para cobrar um morador do bairro Canudos a quem tinha consignado cerca de 50 carros para revenda, há quatro meses, mas não tinha notícia dos últimos 11, num prejuízo que passava de R$ 1 milhão.

Na manhã do dia 2, se encontrou com o parceiro gaúcho para resolver as pendências. Teriam ido em dois carros a revendas de veículos. Uma delas em Santo Antônio da Patrulha, onde teriam ficado das 8 horas até as 10h30. Melo dirigia um Troller T4 branco, com placas de Belo Horizonte, e o hamburguense conduzia um Volkswagen Gol de mesma cor, de Dois Irmãos.

O mistério começou no retorno, no início da tarde. Conforme a família do empresário, ele publicou uma foto em rede social às 13 horas na carona do Troller. Às 13h10, parou em um posto de combustíveis em Taquara, conforme captado por câmeras do estabelecimento. Às 13h30, os parentes não conseguiram mais contato.

Às 5h47 do dia seguinte, o irmão do desaparecido e sócio da revenda em Belo Horizonte, Robert Melo, 40, fez a ocorrência do desaparecimento na Central de Polícia de Novo Hamburgo. Ele veio com o pai, Eberth, e um cunhado para acompanhar as buscas. O empresário tinha reserva no hotel até domingo passado, dia 4.

Na terça-feira, o parceiro foi preso. Conforme revelado pela reportagem, é suspeito de fazer parte de uma rede do Vale do Sinos especializada em golpes e lavagem de dinheiro com automóveis.

Nesta quinta-feira (8), segundo o Corpo de Bombeiros, as buscas seguiram no bairro Evaristo, área rural de Santo Antônio da Patrulha perto da RS-474, com emprego de cães farejadores. Continuarão nesta sexta.

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