"Essa é a rodovia da morte", desabafa usuária sobre trecho da BR-116 que soma oito mortes
Local fica entre o bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, e Travessão, em Dois Irmãos; entenda os riscos
Desde o início deste ano, oito mortes em acidentes de trânsito foram registradas no trecho da BR-116, entre o entroncamento da RS239, em Novo Hamburgo, e o bairro Travessão, em Dois Irmãos. As mais recentes ocorreram na manhã desta quarta-feira (21), por volta das 6h30, em um acidente envolvendo três carros, uma moto e um caminhão, no quilômetro 234, em Novo Hamburgo. Duas pessoas morreram.
As vítimas, ambas moradoras do bairro Roselândia, foram identificadas como Marcos Evaristo dosSantos, de 42 anos, condutor do Honda Fit, e Fernando de Almeida, 31, que pilotava a motocicleta Honda
CG 125. Eles estavam a caminho do trabalho.
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Os perigos identificados são a pista simples, que domina a rodovia, o trânsito pesado ocorre ao longo de todo o dia, há muitos acessos locais nos dois lados da rodovia, com trânsito de pedestres e ciclistas. Ospontos se somam ainda a imprudência dos usuários.
Os perigos do trecho revoltam
“Essa é a rodovia da morte”, define a moradora de Dois Irmãos Ângela Haubert, 69, que passa pelo trecho seguidamente. Os seis acidentes fatais com oito vítimas revolta a população. A história de ontem é semelhante ao acidente que ocorreu em 29 de maio, quando um motorista também teria invadido a pista contrária para desviar de uma pessoa que atravessava a rodovia. Um funcionário de uma revenda que fica às margens da BR-116 e que pede para não ter seu nome divulgado, relata que acidentes no local ocorrem semanalmente.
“É bem comum as pessoas caminharem pelo acostamento e os motoqueiros passarem pela direita. Aqui não tem nada para os pedestres atravessarem”, avalia. Um morador do bairro Roselândia ainda diz que não há sinalização, iluminação e passagens de pedestres adequadas na rodovia. “Quem sai da Roselândia e quer ir para o bairro em Estância Velha, não tem como. Se arrisca”, conta.
Mobilização para tirar demanda do papel
O número de vítimas reacende a necessidade de melhorias estruturais na rodovia. Para isso, o presidente da Associação dos Municípios do Vale Germânico (Amvag), o prefeito de Estância Velha, Diego Francisco,
esteve reunido com representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no início do mês. De acordo com ele, durante o encontro, o órgão apresentou um anteprojeto para a duplicação da BR-116 até Dois Irmãos.
“Eles nos deixaram claro que não tem como fazer pequenas intervenções”, explica. Ele reconhece que a obra não é uma solução rápida aos problemas de segurança da via. “Seria uma obra que demoraria alguns anos. Mas agora precisamos de mobilização para tirar a proposta do papel”, analisa Francisco. O anteprojeto precisaria ainda passar pelas avaliações de viabilidade técnica e ambiental, para só depois ser licitado.
Segundo a prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt, reuniões têm sido feitas com o Dnit para pedir que projetos de melhorias já elaborados para a BR-116 na região sejam executados. “São projetos elaborados por técnicos do próprio Dnit e que contemplam mudanças importantes e necessárias para a rodovia. Também seria interessante se as organizações civis se unissem a nós nesta questão. Todo apoio se faz necessário", disse em nota.
Antes das obras o pedido é por conscientização de todos
Chefe de Fiscalização e Policiamento da 1ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio
Grande do Sul, que atende o trecho da rodovia, Luciano Caetano de Oliveira defende que a saída mais rápida para o trecho seria a instalação de uma passarela. Porém, alerta que apenas isso não será suficiente, já que muitos acidentes ainda acontecem em decorrência de imprudência no trânsito.
“Mesmo em trechos com passarelas, tem pedestres que preferem atravessar na rodovia”, avalia ele em relação ao comportamento de pedestres. Outro fator que chama atenção do policial é em relação aos acidentes com motociclistas, que acabam se tornando mais graves em razão da natureza do veículo. “Tem acidentes que se fossem entre carros não teriam nem feridos”, avalia.
De acordo com levantamentos da PRF entre janeiro e o dia 21 de junho foram 14 acidentes fatais na BR116 no trecho entre Dois Irmãos e Esteio, que deixaram 18 pessoas mortas. “É preciso conscientizar pedestres e motoristas para evitar imprudência”, ressalta Caetano.
Sem previsão do projeto de duplicação
Uma das reclamações de alguns usuários foi quanto à sinalização da via, questão que para o deputado Lucas Redecker (PSDB) é a alternativa de momento para reduzir a letalidade da rodovia. “A única solução (definitiva) são as obras da 116”, resume o parlamentar.
Segundo Redecker, a bancada gaúcha da Câmara dos Deputados esteve reunida nesta semana com o ministro dos Transportes, Renan Filho, e ouviu dele a informação de que para começar novas obras, primeiro serão finalizadas as que estão em andamento na BR-116. A estimativa é que estas estejam prontas até o meio do próximo ano, e há garantia de recursos às mesmas.
De acordo com o DNIT, para a duplicação do trecho entre os quilômetros 218 a 232,5, que corresponde a ligação entre Dois Irmãos e Novo Hamburgo, depende da contratação de uma empresa para a realização de Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) e do Projeto Básico e Executivo de Engenharia. “O que depende de planejamento a ser definido pelo Governo Federal para futura inclusão na Lei Orçamentária Anual (LOA)”, informa a autarquia por nota.
O Dnit ainda garante manter de forma constante os “serviços rotineiros de sinalização, manutenção e limpeza” da rodovia.
BR concentra 18 vítimas entre Esteio e Dois Irmãos
Um levantamento da PRF, que atende a BR-116, no trecho entre Esteio e Dois Irmãos, a rodovia soma 18 mortes em 14 acidentes desde janeiro de 2023. Deste total, oito vítimas foram no trecho apontado como problemático. Confira os números:
- Janeiro: três acidentes fatais, com quatro mortos.
- Fevereiro: dois acidentes fatais, com dois mortos.
- Março: um acidente fatal, com um morto.
- Abril: dois acidentes fatais, com dois mortos.
- Maio: quatro acidentes fatais, com seis mortos.
- Junho: dois acidentes fatais, com três mortos (contabilizados até 21/6).
