Ousar é arriscar

O noticiário internacional foi tomado pelo insólito episódio Titan-Titanic. Enquanto uns morrem de medo de morrer, outros parecem desconhecer situações de risco e encaram qualquer parada. Quem teve a oportunidade de ver o diretor técnico do projeto Titan discorrer sobre os atributos tecnológicos embarcados no artefato especialmente produzido para descer aos destroços do malfadado navio transcontinental, talvez possa concordar comigo. O Titan me pareceu uma cápsula improvisada, com pouco conforto, comandado por uma Nintendo de primeira geração. Um típico caça níquel de bacanas.

Cada vez mais o evento Titanic parece não se saciar engolindo vidas ainda depois de morto. As sucessivas tentativas de visitar seu cadavérico casco, tampouco. O fascínio exercido pelo maior e melhor singra mares até então construído não parece considerar sua mortífera tarefa concluída.

Acredito que pessoas que perdem a vida numa desastrada aventura como essa não podem se queixar de que tenham sido traídas pela força do aleatório. Quem desce 3.800 metros às profundezas do oceano sempre está sujeito a enfrentar uma zebra. Isso vale mesmo para os marinheiros mais experientes cercados pela tecnologia mais avançada. E como nesse caso, por pura e exclusiva vaidade, a não ser o doce e insuperável sabor de contar para os outros o seu feito.

Um jogador de futebol afirmou que o atleta morre duas vezes e assim, de alguma forma, se tornou sobrevivente da primeira morte. Os crentes que acreditam em vida eterna, também. Outros não reconhecem a morte, só uma mudança de plano. Os que a desafiam, entretanto, correm o risco de conhecê-la antes do previsto. Procuram-na incansavelmente, até encontrá-la sem estar preparados.

O artigo publicado neste espaço é opinião pessoal e de inteira responsabilidade de seu autor.
Por razões de clareza ou espaço poderão ser publicados resumidamente.
Artigos podem ser enviados para opiniao@gruposinos.com.br