Lindolfo Collor teve 17% da população atingida pela enchente
Uma semana após a pior cheia dos últimos anos, mutirões seguem para recuperar o que sobrou nas casas
Nesta sexta-feira (23) completa uma semana do dia que marcará para sempre a história de Lindolfo Collor. Com o Arroio Feitoria alcançando a marca de 7,4 metros, a cidade de 6,1 mil habitantes foi devastada pelas águas. Em três horas, a parte baixa da cidade estava totalmente alagada.
As árvores e os barrancos caídos, além da lama que se acumula em alguns pontos, comprovam que a enchente teve grandes dimensões.
Com 1.057 pessoas atingidas e 318 casas onde a água ficou na altura do telhado, o município foi um dos mais afetados na região. Mesmo que a população esteja desde domingo (18) limpando os rastros deixados pelo ciclone extratropical, ainda há muito para ser feito.
Nesta quinta-feira (22), o que mais se via eram varais cheios de roupas e pessoas lavando móveis, com a expectativa que depois da chegada do sol alguma coisa possa ser reaproveitada.
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Segundo Behne, desde sexta-feira não para de chegar ajuda de todos os cantos do Estado. São voluntários que trazem produtos de limpeza, móveis e refeições prontas para serem consumidas. Além disso, há entidades de fora do Rio Grande do Sul que já se prontificaram em prestar solidariedade. "Uma ONG do Rio de Janeiro me ligou dizendo que vai ajudar", comentou.
A principal preocupação da administração municipal, neste momento, é garantir mobília para quem perdeu tudo. Por isso, Lindolfo Collor conta com a solidariedade. Para se ter uma ideia, até a noite de quarta-feira (21) a prefeitura já tinha recolhido 187 toneladas de entulhos, material que é levado para a Usina de Reciclagem de Lindolfo Collor. A expectativa é que este volume aumente, pois há móveis que ainda não foram descartados porque os moradores avaliam se poderá ser utilizado.
Nesta quinta-feira, uma equipe da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fepam) esteve na cidade para vistoriar empresas em virtude dos alagamentos. O prefeito já solicitou orientações de como realizar a limpeza dos leitos dos arroios, que acumulam muito resíduo.
Agradecimento
Behne agradece a todos que se envolveram no salvamento das pessoas, muitas retiradas de cima dos telhados. "A nossa primeira preocupação era zelar pela vida. Obrigada aos bombeiros, Brigada Militar, governo do Estado, prefeituras e todos aqueles que nos ajudaram a salvar as pessoas."
Mutirão em família recupera o que dá
O bairro Nova Esperança, junto com 48 Baixa e a área central, foi o mais atingido pela cheia no município. Na Rua William Gehm, desde domingo a família Fuchs se reveza na limpeza da casa da matriarca, a aposentada Darcila Fuchs, 74 anos. A idosa, que usa muletas para se locomover, foi retirada do endereço já na quinta-feira (15) à noite por precaução.
Agora, a filha Janete Fuchs, 51, e a neta Carine Fuchs da Silva, 31, além de Neri Fischer, 56, trabalham para retirar o lodo da moradia. Na manhã desta quinta (22), eles lavavam a louça, uma das poucas coisas que poderão ser reaproveitadas. "A minha casa é aqui perto e também ficou abaixo d'água", conta Janete.
Leonice mudou de endereço
Nesta quinta-feira (22), Leonice Castro, 42, foi até o local em que durante oito anos foi sua casa recolher o que sobrou: roupas e cobertas molhadas pela cheia. A industriária conta que relutou para sair, pois queria erguer todos os móveis. Mas no momento em que uma estante caiu e prensou sua filha contra a parede, mudou de ideia. "Foi nesta hora que eu me entreguei. Saímos com água na altura do peito e pedimos ajuda no vizinho", desabafa.
Bebê é salvo da enchente por vizinho
Lindolfo Collor também coleciona uma série de histórias de heróis anônimos, de pessoas que não pensaram em si na hora de salvar a vida de quem estava em perigo. Este foi o caso do porteiro Leandro Severo, que nesta quinta-feira completou 40 anos.
Ele retirou da correnteza o bebê Richard Lamb, de 1 ano, filho da sua vizinha, a dona de casa Paola Fonhaimporg, 29 anos. Ela conta que acordaram às 5 horas com um telefona da sogra, avisando da enchente. A família começou a erguer os móveis para a parte dos fundos da casa, que é mais alta.
Mas rapidamente a água tomou conta da moradia e Paola ficou com água na altura do pescoço. Como não conseguia mais segurar o filho no colo, forrou um balde com um cobertor e ali colocou o bebê. Mas quando abriu a porta para sair da residência, acompanhada pelos outros três filhos, a correnteza levou o balde com Richard dentro pela Avenida Capivara. Em frente à casa de Severo, o balde virou. O porteiro, que estava ajudando um casal de vizinhos idosos, agiu rapidamente. "Foi Deus que me colocou ali para pegar o Richard. Eu sempre tive um carinho especial por esse menino e fiquei muito feliz de ter conseguido salvar ele", disse Severo.
A mãe relata que foram segundos de desespero, pois não sabe nadar. Agora, a família finaliza a limpeza da moradia e lava as roupas que não foram levadas pela enchente. Também conta com a solidariedade de outras famílias para mobiliar a casa, já que sobrou apenas o sofá encharcado. "Agora é voltar a reconstruir tudo de novo. Não tem mais o que fazer", diz Paola.